Certa ocasião o poeta, Apparício da
Silva Rillo, me comentou: publicamos um poema, e as pessoas ficam descobrindo
coisas que a gente nem sabia que tinha dito. Na verdade, quanto mais inspirado
é o poeta mais transparecem nas entrelinhas de seus textos suas verdades. É na
decodificação desses sinais que se encontra o caminho de seus labirintos e os
espantos de sua poesia.
No momento mágico da criação, as
ideias vão fluindo como ordenadas por uma energia superior que faz com que o
poema transcenda o significado das palavras, e, só assim, se revela a obra do
artista. Capaz de fazer soar as cordas de nossa alma, despertando nossos
sentidos, abrindo nossos olhos, cantando em nossos ouvidos, tocando nossa pele,
fazendo do nosso coração receptáculo para o subjetivo.
Nem todos são poetas, pintores ou
músicos. Nem todos fazem poesia, nem todos compõem música, nem todos pintam
telas. Mas conseguem vibrar na frequência do autor, quando lêem quem escreve,
escutam quem toca ou admiram uma tela de quem pinta. Pois existe uma linguagem
da alma, indiferente a credos, a tempos, a nacionalidades.
Moisés Menezes usa essa linguagem
para transmitir em sua poesia, a um tempo, a sonoridade e os matizes que
imprimem cadência e colorido à seus textos, e o conteúdo profundo do sentimento
que identifica o homem em qualquer lugar do planeta.
Atahualpa Yupanqui, respondendo ao
jornalista que o entrevistava, disse: Yo no comento mis cosas!
Na verdade, embora a autocrítica
exerça papel fundamental na evolução do artista, não lhe cabe a avaliação de
sua obra. Com certeza, Moisés Menezes não cria seus poemas, preocupado com a
análise das regras e métodos por ventura utilizados. Isso, deixa para aqueles
interessados em mapear os caminhos percorridos por ele em busca de respostas,
em cada um de seus poemas. O que vale, quando somos impelidos a rabiscar na
folha branca os hieróglifos das nossas peregrinas inquietudes, é a bagagem que
guardamos na mala-de-garupa e a carga que trazemos nos pessuelos. Dessa bagagem
sairão as cores, o som e as palavras que darão vida à poesia.
É simples como o mate que oferecemos
ao recém chegado. E estão presentes ali os sais da terra onde cresceu a
erveira, o tinir do facão do ervateiro, a seiva purificada no carijó, a brasa,
o vento, o sol e, despertados pelo calor da água, a memória vegetal do porongo
que forneceu a cuia.
Pois em suas Peregrinas Inquietudes,
Moisés Menezes nos oferece a espontaneidade de sua excelente poesia enriquecida
por uma análise cuidadosa de cada um dos poemas que compõem o livro.
Seus leitores têm assim a
oportunidade de deliciar-se com aquilo que o poeta disse e, levados pela mão de
estudiosos, descobrir e entender aquilo que ele nem sabia que tinha dito. Por tudo isso, este é um desses livros que ao
concluirmos sua leitura sentimos necessidade de uma reflexão. É instigante
desde o primeiro poema, quando pergunta: a quem vingava Latorre feroz de faca
na mão?
Não queremos a resposta.
São as interrogações que nos fazem
andar, e chegar mais longe.
Colmar
Duarte
Crescente de
janeiro de 2015.
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