terça-feira, 26 de junho de 2012

                             O Cacique Batu
    O vocábulo Batu quer dizer chefe de quadrilha ou bando. Com essa grafia encontramos no Rio Grande do Sul apenas o cacique minuano Batu e o lugarejo do Batu em Tupanciretã.
     Existe ainda a forma Batú referente a um jogo de pelota praticado pelos índios Tainos, indígenas pré-colombianos que habitavan as Bahamas, Grandes Antilhas, e Pequenas Antilhas do Norte, no Caribe. Acredita-se que eram ligados aos Aruaques da América do Sul. Falavam um idioma da família linguística Maipureana, que abrange o norte da América do Sul e todo o Caribe.
     A localidade Batu,no município de Tupanciretã, possui a mesma grafia do nome do Cacique Minuano Batu, donde deduzimos que um deriva do outro. Pela antiguidade do nome do lugar, homenageado em 1930 com uma estação férrea (o nome é anterior ao trem) e pela época em que o cacique Batu viveu e tendo-se comprovado suas andanças pela região é possível afirmar que o nome do lugar deriva do cacique Batu que ali viveu por algum tempo, em época não bem  determinada.
     Gomes e Pereira citam o Cacique Batu entre os primeiros moradores de Cruz Alta,ressaltando-se que a época o lugar Batu,situado no Posto Jesuíta de São Solano,pertencia a Cruz Alta,hoje no entanto está compreendido no municipio de Tupanciretã:
“...Antônio de Souza Fagundes, José Bernardo Fagundes, Zeferino dos Santos, no Cadeado, hoje Capela. José Caetano de Carvalho e Souza na Guarda da Conceição. Firmino da Silva Moreira, próximo ao povoado. Manoel Gonçalves Terra, no atual Rincão de Nossa Senhora. Antônio Moreira da Silva, para o lado do lvaí. Joaquim Júlio da Costa Prado, entre os Arroios Corticeira e Palmeira. Domingos AIves dos Santos, na histórica estância da Conceição. Cacique Batú, na sesmaria São Francisco Solano, dividindo ao Norte com a Conceição. João Nunes da Silva, na Estância Tupanciretã, dos Jesuítas, com o Posto de São Tomé. Manoel Antônio Severo, na Guarda de São Pedro. Jacinto Pereira Henriques, sobre o Arroio Caneleira. Matheus e Agostinho Soares da Silva, na sesmaria Céu Azul, à direita do lvaí. Antônio Rodrigues Padilha, próximo à Guarda de São Pedro. João Vieira de Alvarenga, onde localizou-se o Povo Novo, de cuja área foi êle o doador. Ana Cândida Vieira, à margem direita do lvaí, em 1817....”

Saldanha descreve o Cacique Batu ao encontrá-lo, em 1790, às margens do rio Cacequi:
“... O Batu é alto, velho carancudo, e  feio.”
Trancreve ainda Saldanha uma fala de aspecto religioso do Cacique Batu:
“...Quem poderá haver tão falto de razão, que do ente supremo negue a existência, se o mesmo Batu da gema dos minuanos, falto de discursos, e combinações responde apontando para o céu... só quem ali existe. Senhor é das vidas, e humanas mortes...”

  Esse trecho comprova a convivência do cacique na região das missões onde teve contatos com o catolicismo e vem ao encontro de outras citações inclusas em outros momentos desse trabalho referente às visitas frequentes dos índios pâmpidas, integrantes das mais variadas tribos, em busca de negócios, em tentativas de aderir à catequese e ao reducionismo, além de algumas já faladas incursões de roubo de gado, conforme Wilde:

“...Más tarde relata un informe que un grupo de nicolasistas fugados de su pueblo se dedicaban al saqueo de las estancias de la zona comandados por un líder llamado Chumacera y que proclamaban como jefe al Cacique Batu de los minuanes a cuya toldería habían enviado sus mujeres y bienes .”

     Aqui temos um fragmento que indica ser próximo das missões a Toldaria de Batu, caso contrário não seria uma operação rápida e fácil, para lá, serem levadas mulheres, crianças e bens. Deduzimos também que era Batu muito conhecido na região, pois fora aclamado líder inclusive de índios guaranis, para essa missão de saque. Wilde não situa exatamente o ano desse fato, mas sua obra analisa o período entre 1609-1768. Pode-se deduzir que ele tenha aparecido junto com o Cacique Moreyra que andava por ali ao tempo do Padre Sepp, pois foi uma época de muitos relatos envolvendo a presença de Minuanos, Guenoas, Yaros e outros ditos infiéis nas reduções de São Miguel, São Nicolau e São João.
     Em razão do Cacique Moreyra liderar 200 minuanos como retaguarda do exercito português na segunda campanha guaranítica e sabendo-se que um cacique tinha consigo por volta de 50 guerreiros,é provável a presença de outros caciques nesse grupo e entre esses o velho Batu que já era conhecidos nas missões e por ali havia liderado guaranis renegados conforme Wilde,já citado anteriormente.Certo que participaram na guerra e que voltaram junto com Gomes Freire ebem provável que abandoram as missões quando o general voltou para Rio Pardo e exemplo também de muitos guaranis,pois não gostavam dos espanhóis.
      Ferreira Filho ao comentar sobre os índios do Rio Grande do Sul assim se expressa:

   “No inicio do povoamento lusitano constatou-se a presença de índios minuanos em Mostardas, na costa do mar, e mais tarde no Planalto Médio, onde deixou fama o Cacique Batu.”
     Temos aqui uma consistente e definitiva prova de que Batu viveu em Tupanciretã onde fez fama ao ponto de ter unido para sempre seu nome a uma das mais tradicionais localidades do município.
   O fato do Cacique Batu haver sido um dos antigos moradores de Tupanciretã é muito significativo, pois deixou seu nome ligado a uma localidade que já sendo importante como posto de estância missioneira, passa a ter ainda mais relevo por ter sido lugar da Toldaria do  célebre cacique  e finalmente confere um traço minuano, um traço pâmpida à face missioneira da Terra da Mãe de Deus.