Segundo o escritor e
filólogo Umberto Eco,
crítico do papel das novas tecnologias na disseminação de informações, em
opinião manifestada quando da outorga do título de doutor Honoris Causa em
comunicação e cultura na Universidade de Turim(11-06-2015):
"Normalmente, eles (os imbecis) eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel".
"Normalmente, eles (os imbecis) eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel".
Para ele, a TV fez com que o “idiota da aldeia” se sentisse em um patamar superior, e a Internet elevou ainda mais essa situação.
Antes das redes sociais, os “idiotas da aldeia’’ tinham direito à palavra "em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade". ''O drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade".
Trago a opinião do conceituado escritor
porque quero refletir sobre a ideia da liturgia do cargo que foi popularizada
pelo ex-presidente José Sarney no primeiro semestre do ano de 1985, quando
recém empossado Presidente da República, ao ser flagrado por repórteres e
fotógrafos saindo do palácio presidencial ao volante do seu carro particular,
num final de semana, indo para a sua propriedade, o sítio de São José do
Pericumã, acompanhado da esposa Dona Marli Sarney.
Indagado sobre aquele
fato inusitado, um Presidente da República dirigindo seu próprio automóvel,
Sarney respondeu, sem jeito e meio constrangido, que esperava não estar
violando a “liturgia do
cargo’. Despediu-se
dos profissionais da imprensa, engatou a primeira e foi embora pra sua fazenda,
seguido por um batalhão de jornalistas.
A expressão “liturgia do cargo” é muito
adequada para expressar o comportamento que se espera de ocupantes de cargos
público e, assim como a ética, deveria ser um conceito natural, de fácil
percepção e de entendimento pacifico por quem recebe a missão de representar ou
conduzir os demais cidadãos. Sobranceiramente, é a consciência do significado
de se ocupar uma posição de destaque, de representatividade, de mando, de responsabilidade,
uma delegação social.
Mas assim como não tem a noção do conceito de ética, alguns desses
afortunados detentores de posições relevantes (eleitos ou concursados) na
estrutura pública nos seus três níveis (em seus vários escalões), também são
levados a ter uma visão toda particular do que seja a “liturgia do cargo”. Confundem
esse conceito (muito pela deficiência sociocultural e moral que a grande
maioria é portadora) como sendo as condições materiais e posições sociais que
lhes são alcançadas pelo contribuinte (nós todos pagadores da conta) e
colocadas à disposição para exibir suas façanhas nada edificantes.
Faço essas colocações porque nesses dias que antecedem as eleições para prefeitos
(as) e vereadores (as) o eleitor tem que decidir e escolher pelo melhor nesse
emaranhado de opiniões, promessas e acusações. Alguns (mas) só acusam porque
lhes falta obra, lhes falta história, lhes falecem propostas e objetivos claros
e honestos. As redes sociais estão saturadas de campanha política e em alguns
casos (não poucos), candidatos e apoiadores (as),inclusive é facilmente
observável, apoiador (a),mentor(a) que monopoliza a candidatura do(a) afilhado
(a) e aí o ridículo não tem limites).
São
fotos desmazeladas, debochadas (o deboche pode ser arte, mas tem que ter
cultura pra isso),acusações infundadas, inversão de palavras, de atos, de
atitudes enfim tudo o que mentes doentias são capazes de produzir dentro dessa
afirmação (repito) de Humberto Eco:
- Antes
das redes sociais, os ‘’idiotas da aldeia’’ tinham direito à palavra "em
um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade". ''O
drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da
verdade".
Diante desse quadro dantesco,
miserável (não conheço nada mais violento e miserável que a pobreza espiritual
– falência múltipla das virtudes–) convido o leitor a pensar:
a)
Não ficas com vergonha de teu (tua) eleito (a) ou do (a) postulante a um cargo
a partir de procuração plena por ti outorgada nas urnas, quando o (a) flagras
de quatro pelos bochichos, antros de jogatina ou outros lugares de ajuntamento
de público arrastando sua pequenez, nunca o (a) encontrando em um lugar de frequência
e de convivência mais civilizada?
b)
O que pensas da tua escolha quando entras na página pessoal que o (a) distinto
(a) eleito (a) ou candidato (a) mantém nas redes sociais e te deparas com a
imagem de que fazias do (a) mesmo (a) se desfazendo ou se putrefazendo em
postagens escabrosas, tenebrosas, doentias?
(c)
Que dizes quando teu (tua) escolhido (a) calunia, injuria, acusa sem provas, não
respeitando credo cor, sexo, doença, familiares, transformando o cenário
eleitoral numa encenação reles, bem adequada a sua biografia desprovida de valores
e princípios que devem nortear quem pleiteia nosso aval, para nos representar e
administrar nossas aspirações e a coisa pública que é de todos e para todos?
d)
Claro que já te arrependeste do teu voto (já aconteceu comigo e não foi somente
uma vez), então verifica quem o (a) causador (a) do teu arrependimento, da tua
frustração, da tua tristeza, está apoiando nesta eleição. Assim, vamos dirigir
a arma certeira do nosso voto (temos autoridade moral para decidir), somos
donos do nosso destino para escolher alguém mais adequado ao nosso
comportamento e aos nossos anseios. Vamos votar pelo futuro que queremos para nossos
filhos e netos, de forma que se orgulhem por não termos sido omissos na hora de
decidir o que é melhor para um tempo novo e digno, por decidirmos com
serenidade e firmeza por um porvir mais humano. Vamos decidir de forma que as
nossas ações e escolhas não venham macular o legado de nossos antepassados, nem
comprometer o futuro de nossos descendentes.
Feitas estas considerações,
proponho: – Não vamos esperar uma estrita “liturgia do cargo” ao escolher nosso
(a) candidato (a), pois é penoso para muitos (as).Vamos exigir só uma postura adequada
à função pública.Vamos exigir apenas respeito e conduta ilibada. Só isso!!!