domingo, 29 de março de 2015

PAISAGEM QUE EXCEDE EM SIGNIFICAÇÕES

PAISAGEM QUE EXCEDE EM SIGNIFICAÇÕES
Moisés Silveira de Menezes
Poeta,compositor,pesquisador da história do RS
Licenciado em Letras Português-Espanhol.Cel RR da Brigada Militar do RS.


            A Carta de Budapeste da UNESCO (2002) ratificando a Convenção do Patrimônio Mundial de 1972define as paisagens culturais como bens culturais que representam as obras conjugadas do homem e da natureza,e ilustram a evolução da sociedade humana e a sua consolidação ao longo do tempo, sob a influência das condicionantes físicas e/ou das possibilidades apresentadas pelo seu ambiente natural e das sucessivas forças sociais, econômicas e culturais, externas e internas.Também classifica as paisagens culturais em três categorias principais:
- A paisagem intencionalmente concebida e criada pelo homem por razões estéticas ( jardins, parques).
-A paisagem essencialmente evolutiva. Resulta de uma exigência de origem social, econômica, administrativa e/ou religiosa. Subdivide-se em duas categorias:
- uma paisagem relíquia (ou fóssil) é aquela que sofreu um processo evolutivo, mas que foi interrompido num dado momento do passado. Porém, as suas características essenciais mantêm-se materialmente visíveis;
- uma paisagem viva conserva um papel social ativo na sociedade contemporânea, e está intimamente associada ao modo de vida tradicional e na qual o processo evolutivo continua.
- A última categoria compreende a paisagem cultural associativa.
Portanto, vê-se sob esse ponto de vista que a obra Significados da Paisagem, de Victor Aquino, se apresenta para o leitor, pois é no contexto da paisagem cultural associativa que a vida caminha que a vida acontece e assim produz história, produz cultura,sempre a partir de um processo vivo de permanente diálogo entre a paisagem natural e a paisagem cultural visando o progresso,o bem comum e o bem estar da humanidade.
É preciso destacar que em Significados da Paisagem, o autor utiliza uma frase de seu pai Francisco de Sales Marques Corrêa para situar a obra e para definir a paisagem adiantando ao leitor o significado, o conteúdo e a abrangência da obra: “A primeira coisa que alguém vê em uma paisagem é aquilo que mais importa ou, por alguma razão, é aquilo que mais interessa a quem está vendo.”
Ainda no mesmo sentido de antecipar a ideia e também a dimensão do seu trabalho que se apresenta a partir do que viu,ouviu, viveu e pesquisou com profundidade, pois as raízes de uma família sempre envolve uma busca árdua e complexa ,prossegue o autor afirmando:
Pois certamente. Nessa imensa paisagem que é a minha vida, tudo que sobressai dela é aquilo que me interessa mais, ou o que mais se refere a mim. Nessa paisagem de vida, o que mais me prende o olhar (ou a lembrança) é tudo isso que aparece em primeiro plano. E nesse primeiro plano está sempre a imagem de meu pai. Uma imagem ainda muito nítida. A imagem que confere significado a tudo o mais que vem depois.
No primeiro momento em uma leitura plana,superficial, pode-se depreender que adentrará pelos estreitos caminhos de uma obra de cunho e conteúdo eminentemente pessoal,de significado e alcance reduzidos ao liame familiar,refletindo apenas o que interessa,o que viu e o que transmitiu seu autor sem preocupação maior com o processo histórico.
Significados da Paisagem pretendia ser apenas uma homenagem ao pai do autor-narrador por ocasião e para assinalar o centenário do nascimento daquele. No entanto, já nas primeiras páginas, o leitor de olhar mais acurado e ouvido bem atento, por certo vai captar que a obra caminha com naturalidade pela senda bem delineada da ficção histórica para situar-se  naquela faixa que permeia com nitidez o diálogo entre história e literatura,pois segundo Weinhardt:
O passado é uma empresa do imaginário, seja no plano da história, seja no da criação literária. Mas cada discurso preserva sua identidade. Para reconhecê-la, é indispensável refletir sobre as similitudes da narrativa histórica e da narrativa ficcional, bem como sobre as suas singularidades.
O autor utiliza um rigor investigativo nas pesquisas que antecederam a edição:metódico, cuidadoso, esmerado e isso, além do conhecimento e da prática acadêmica que assim se apresenta,observa-se também que herdou do pai - a grande figura, a personagem que transita com autoridade por toda a obra. Essa conduta na busca da verdade,do dado concreto,exato,fica bem clara quando a prefacista Taís Gomes Correa relata uma troca de cartas,no ano 1960,entre seu avô Francisco de Sales Correa Leite e um presbítero,responsável pela guarda e manuseio do arquivo da arquidiocese de Uruguaiana.Esse fato ilustra a preocupação em descobrir com exatidão a data de nascimento de uma criança da família, cujo batismo se dera em uma igreja na região de São Borja, por volta de 1860.A certa altura,afirma Taís, que em uma das cartas, o religioso aparentemente já enfadado com a insistência de seu avô, escreve:“...por que o senhor tem tanta necessidade desses dados?”Ao que seu avô, em resposta à missiva, responde incisivo:“tranquiliza-me saber com exatidão esses dados para que o tempo não deixe ninguém da família esquecer de onde veio.”
Alguns personagens, membros da família, participaram de grandes acontecimentos da história do sul do país como a colonização açoriana, que é primordial para se entender a formação do homem sulino, pois essa foi estimulada pelo interesse de Portugal em povoar o território do Brasil colônia, alternativa empregada para impedir a exploração das novas terras portuguesas por outras nacionalidades.Em determinado momento, o avô de Victor migra do Rio Pardo para o Boqueirão,dentro do processo de ocupação da região missioneira conquistada, em 1802, para o reino de Portugal que a história registra como “incorporação tardia” ao território brasileiro, outro episódio de significado para a formação da população sulina.
                       Ainda temos a Retirada de Laguna, que, embora configure uma espécie de épico ao contrário, se constituiu como um grande feito das tropas brasileiras comandadas pelo Coronel Carlos de Morais Camisão.O singular episódio foi eternizado pela pena de Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay, que no final da Guerra do Paraguai ocupava o posto de secretário do estado-maior do conde d’Eu, comandante geral das forças brasileiras.Nesse episódio, a família do autor vem a perder três integrantes,quais sejam seu bisavô e dois filhos.Todo esse emaranhado de acontecimentos importantes, embora sejam pouco aprofundados na narrativa,confirmam a rigorosa investigação,a cuidadosa certificação dos dados colhidos mediante cruzamentos e cotejamentos porque o autor tem a mesma persistência e o mesmo rigor de seu pai que houvera iniciado a busca dos inúmeros ramos da árvore genealógica da família.
Segundo ainda a autora do prefácio, Taís Gomes Correa, ao pesquisar uma listagem dos mortos na Retirada da Laguna, Victor Aquino depara-se com oito versões diferentes, mas com muitas semelhanças, alguns nomes repetidos e uma série de situações envolvendo grafias incorretas, tudo dentro de um contexto bem familiar par quem pesquisa documentos antigos,por vezes mal preservados e por isso bem trabalhoso na apuração e purificação dos dados colhidos.Mas o autor, a exemplo se seu pai,foi persistente e criterioso na medida necessária para lograr êxito e colher o material que faltava a fim de completar com absoluta correção e esmero a narrativa.Vejamos isso nas palavras textuais de Taís:
No contexto do livro, embora sejam poucas as páginas que remetem à guerra dos Farrapos, ou à guerra do Paraguai, esses dados foram consolidados com exatidão porque, segundo o próprio autor, “envolvem a participação de nossos ancestrais”. Como descendemos deles, é confortável saber de onde vieram, o que fizeram e o que representaram, pelo menos para a família. A certa altura o autor escreve que se trata“ de um tempo distante e já pouco lembrado, sem grande importância histórica para quem vive a superficialidade dos dias atuais”.”
Emerge da obra um conjunto de personagens muito vigorosos, marcantes e que inegavelmente nos passam a ideia do contexto histórico de sua época. Em síntese,apresenta-se a ideia do viver com o que lhe cerca:trabalho, costumes, expressões,comportamentos sociais, como seu Avelino que remete para a saga dos pioneiros na povoação do Rio Grande do Sul,vida dura,trabalho árduo e homens de fibra como se pode observar nos recortes muito bem descritos e que ilustram o modo de vida naquele momento.
O pequeno Francisco encontra-o na cozinha a procura de milho para o cavalo. O menino o auxilia na busca. Ao encontrar o que procuram, o velho enche uma lata com o cereal e diz: “leva e põe no cocho para o Bromado”. [...]
 Alguém fez café. O homem engole o líquido quente de uma caneca de lata. Tem pressa. Necessita cavalgar cerca de vinte léguas em outra direção. Vai buscar umas novilhas já negociadas para abate [...] Continuava frio, mas a garoa tinha parado. Partiu a galope contra o sol que vinha nascendo. [...]
Contava-se na família que após muitas horas sobre o cavalo, com o sol a pino e o vento gelado, chega ao fundo da invernada onde há algumas reses. Está muito cansado e com febre. Desmonta e escolhe um canto de grama alta para deixar o cavalo. Retira os arreios e o prende a uma guia longa para pastar.
Entra no único aposento de um casebre existente na tapera e deita sobre uma enxerga forrada de pelegos[...] Deixa-se prostrar sobre a enxerga e cobre-se com o cobertor, o poncho e mais umas cobertas velhas que há no lugar. Começa a suar.
            Em seguida, temos o relato que recompõe os últimos momentos de Avelino.Fantástico gesto que demonstra o amor e o respeito do gaúcho por seu cavalo, sem o qual não sobrevive, não existe. Texto rico na descrição e na reconstituição embasada na oralidade da família,sem prejuízo da verdade dos fatos acontecidos.
Debilitado pelas extensas jornadas a cavalo, adormece profundamente. É já noite quando acorda com barulho de chuva, que cai torrencialmente sobre o teto de zinco do casebre. Está ensopado de suor. Alguns instantes transcorrem até lembrar-se do cavalo que deixara preso em uma guia para pastar na grama alta ao fundo da tapera. Persegue-o, então, o medo de o animal constipar-se também.
Ergue-se num sobressalto. Veste as bombachas ainda úmidas. Calça as botas e sai, direto do suadouro, para a chuva fria. Tossindo e espirrando muito, resguarda o animal em abrigo seguro contíguo ao casebre e volta a dormir. Quando acorda na manhã do dia seguinte está com febre alta, acometido de forte e incurável pneumonia. Longe de qualquer recurso, da família ou mínima assistência possível, morre sozinho à notinha. É encontrado dois dias depois.
Por igual sobressai Vargas Gomes Vieira Corrêa Leite tratado no contexto por Vargas, irmão mais velho de Francisco.É um exemplo do gaúcho ancestral, mais primitivo, com ideia de liberdade, de estância em estância, lidador, atirador exímio, alto senso de justiça e responsabilidade, homem de bem, mas desassombrado, desta forma, se encaixando perfeitamente nos tipos sociais que foram muito bem descritos e salvos do anonimato por Sejanes Dorneles como:Talco Cardoso,Martin Aquino,Iles Querubin e tantos outros que não raro ultrapassavam a linha imaginária entre o bem e o mal principalmente por não aceitarem injustiças e tolhimento da liberdade.
Certa feita o filho de Talco adoeceu, o que motivou um pedido de folga por parte do matrero, para que pudesse ajudar a esposa a cuidar da criança. Nesta época Talco buscava recompor sua imagem de cidadão de bem perante a sociedade, e pretendia passar o resto da vida na tranqüilidade. Porém tal meta foi interrompida. Sucedeu que o seu patrão no frigorífico, um estrangeiro que viera com a Swift para o Brasil e tinha o costume de tratar a peonada daqui com um ar de arrogância e superioridade, não permitiu a folga solicitada. Talco, vendo o filho mal, ignorou o fato e não compareceu ao serviço durante três dias. Ao retornar, o patrão lhe quis aplicar uma suspensão, motivando com isso uma discussão. Talco não achava justo, faltara por motivos de saúde de seu filho. A discussão logo se transformou em briga, com o gringo levando uma baita surra de relho. No outro dia a polícia bateu na casa de Talco, levando-o preso.
No seguinte trecho de Significados da Paisagem se pode perceber a semelhança no agir,quando Vargas,na atitude, na conduta, se aproxima do célebre Talco com o mesmo sentimento de promover a justiça ao saber de uma surra injusta e desmedida que o cunhado havia aplicado em seu irmão menor Francisco:
Meu pai nunca entendeu como, mas sabia que o Vargas, poucos dias depois, encontrou o árabe em um armazém para o qual fornecia mantimentos e, enfrentando-o, meteu-lhe uma faca no pescoço dizendo: “só não te mato agora porque tu és genro da minha mãe”. E, enquanto o soltava, continuou: “se fizeres de novo, volto pra te picotar na faca e te despachar ao inferno”.
A figura mais marcante, o grande personagem da narrativa é sem dúvida Francisco de Sales Marques Corrêa. Sai de casa ainda menino para viver sob a guarda da irmã casada com um negociante árabe o qual maltrata e escraviza a criança. Em dado momento, dando provas de tenacidade e coragem vinga-se do cunhado de forma impressionante, uma ação que o aproxima de Vargas, o irmão que o protegera enquanto vivo, mas que falecera bem jovem. Volta para casa da mãe, da qual só sabia a direção, onde obtém proteção e onde faz sua base para logo seguir um caminho traçado por ele mesmo com muita persistência:
Foi um tempo de descobertas. Gente que não imaginava existir começa a surgir em sua vida. Como o padrinho de batismo, Servírio Jornada, que vivia em uma propriedade nas cercanias da velha Santiago do Boqueirão. Na nova fase da vida, começa uma série de outros convívios. O padrinho, como o primo Pedro Winkle, tornam-se personagens centrais desse novo momento. Acompanha o padrinho em carreteadas, nas quais leva charque e traz sal do Rio Pardo. Com o primo irá tropear estrada afora, entre as fronteiras com a Argentina e o Uruguai. Era ainda o tempo dos abates de curral, das carneadas com muito sangue jorrado no pasto, das salmouras, das mantas de charque e, claro, das varejeiras que revoam sobre carne nova. Será nesse contexto, entre tropeadas e carreteadas, que acabará de crescer e se tornará adulto.
Na passagem pelo serviço militar em Santo Ângelo,faz contato com a Missão Francesa e aprende noções de conversação, arte, história, muito do que será utilizado na fotografia, arte na qual se aperfeiçoa, em Porto Alegre, com um dos melhores fotógrafos do estado, Álvaro Barbeiros, ao qual impressiona pela qualidade do trabalho e pela técnica de aprimoramento da foto.
 A bordo de um carroção tracionado por uma parelha de mulas vai viajar pelo interior do estado,fotografando, mas também conhecendo e ensinando. É observador nato e um empreendedor persistente. Nesse viajar de um lado para outro,conhece Tupanciretã,cidade que não tem um profissional em fotografia,lá se estabelece.Casa-se com sua prima em Santiago e, vindo morar em Tupanciretã,faz história como profissional sério e capacitado.Fotografou,com seu olhar aguçado, inquieto e profundamente revelador,a cidade, seus habitantes, dando para eles “significado”, e aprisionou, assim, um pouco do tempo em uma câmera de qualidade singular, pois segundo ele mesmo:
a fotografia é muito mais que o registro de um momento, ela é também um estimulador da imaginação, que aguça a fantasia de quem se vê no retrato, assim como de quem olha a fotografia de qualquer cena, de qualquer objeto, de qualquer pessoa.
                            Depois de alguns anos bem sucedidos em Tupanciretã,em razão de fortes dissabores ante algumas paredes de incompreensão e obscuridade,resolve mudar-se para São Paulo onde se estabelece com sucesso e forma os filhos coroando dessa maneira sua melhor obra, visto que sempre acreditou e trabalhou na crença de que a educação de um filho é de fundamental importância, pois entendia que “a educação de um filho começa muito antes do avô dele nascer”.  Ainda sobre essa temática, Victor Aquino refere:
Durante toda a vida esteve sempre preocupado com o conhecimento. Ele dizia: “aprender é conhecer, conhecer é saber mais, saber mais é melhorar”. Melhorar, segundo ele, também era o modo que o ser humano tem para se reinventar. A reinvenção da pessoa passa também pelos outros, com os quais vive e convive. Toda a vez que tinha a oportunidade falava: “o aprimoramento de qualquer pessoa é um ato de respeito aos outros.”
                       Segundo Diderot o pintor só tem um momento. Ele não pode registrar dois momentos diferentes,assim como não pode registrar dois movimentos diferentes.Lendo essa afirmação em O Amante do Vulcão, de Susan Sontag, faço uma ponte para a fotografia,pois entendo que haja um permanente dialogo e similitude essa e a pintura.O fotógrafo também não pode captar dois momentos diferentes ou iguais.Uma fração de segundo de tempo passado, e o momento que pode parecer o mesmo já não é, e nada irá recuperá-lo, assim,a frase de Francisco de Sales: “que o mais importante que a câmera são os olhos do fotógrafo também faz sentido em relação a pintura.”
Por outro lado, Roland Barthes faz uma distinção entre o facultativamente real que remete a uma imagem ou um signo,no caso da pintura, e o necessariamente real que é colocado diante da objetiva,pois a pintura pode simular a realidade sem tê-la visto,porém na fotografia o real deve estar lá,em frente à objetiva.
                                       Por muito tempo em alguns povos perdurou a crença de que uma fotografia pode roubar a alma, capturá-la,aprisioná-la. Essa crença existiu e existe de formas diferentes em muitas culturas, mas acredita-se que a origem reside na crença no poder dos espelhos. No folclore, os espelhos têm poder de roubar almas. A superstição de quebrar um espelho e por isso atrair a má sorte deve-se ao fato de crer-se que um espelho partido prejudica a alma.
                     Na antiguidade, gregos, romanos, egípcios e muitos outros povos utilizavam superfícies reflexivas, como espelhos, para a prática de adivinhação, premonição para prever o futuro. Acreditava-se que os espelhos abrem portais dimensionais, permitindo que outros seres ancestrais tenham acesso a vários planos inclusive ao nosso.
             No texto “Almas roubadas através de fotografias?”, disponível no blog Portugal Misterioso, encontrei essa afirmação:
A fotografia, mais do que qualquer outra forma de arte, tem a capacidade de capturar um elemento vivo, um ponto da alma. A maioria das pessoas acha que o fato de fotografar um momento no tempo capta uma essência que é normalmente perdida na história. Mas as fotografias capturar mais de um aspecto do que o tempo vivido, a fotografia capta literalmente um elemento da força da vital, que foi apresentado no momento em que foi feita a fotografia.
Em Significados da Paisagem, todo um contexto sociocultural foi e ainda segue sendo retratado pela câmera de Francisco de Sales Marques Corrêa. Os negativos guardados com carinho continuam a falar, a mostrar, a desnudaras pessoas, os fatos e a vida em uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul,como se a velha máquina, liberta das amarras do tempo, continuasse a fotografar. Por outro lado, percebe-se que agora temos a nos falar do “Significado da Paisagem” não só a velha câmera eo olhar do fotógrafo, mas também o olhar arguto e consciente de seu biógrafo que tem a autoridade de quem guardou além dos negativos,as falas e a paisagem vista por quem sabia que o olhos eram mais importantes que a máquina.
O imaginário do narrador conduz para um despertar do passado cujo propósito era de contar a saga de uma família. Assim, o personagem principal, Francisco de Sales Marques Corrêa,sob o ponto de vista de uma antiga câmera fotográfica e de suas impressões como fotógrafo, mesmo querendo apenas viver honradamente do exercício competente de uma profissão, o fez com tamanho profissionalismo, dedicação e esmero,fazendo assim história e arte e, depreende-se das falas,das imagens,do relato pessoal, que o fez de forma consciente.Tinha convicção de que sua câmera, assentada no presente, apontava para o futuro e, algum dia, iria desnudar o passado libertando as velhas almas aprisionadas para que nos encantem com suas histórias e, sobretudo nos falem:de um tempo distante e já pouco lembrado, sem grande importância histórica para quem vive a superficialidade dos dias atuais.”



BIBLIOGRAFIA
AQUINO,Victor.Significados da paisagem.São Paulo.Instituto da Moda,2012
BARTHES,Roland.A câmara clara. Rio de Janeiro. Nova Fronteira,1984
DORNELES, Sejanes. Os Últimos Bandoleiros a Cavalo.Caxias do Sul. Editora da UCS. 2001
PORTUGAL MISTERIOSO.Blog, Almas roubadas através de fotografias
SONTAG,Susan.O amante do vulcão.São Paulo.Cia das Letras,2001.
WEINHARDT, Marilene. Ficção e história: retomada de antigo diálogo. Revista Letras, Curitiba, n. 58, p. 105-120. jul./dez. 2002. Editora UFPR