segunda-feira, 27 de abril de 2015

PEREGRINAS INQUIETUDES-POSFáCIO





          Certa ocasião o poeta, Apparício da Silva Rillo, me comentou: publicamos um poema, e as pessoas ficam descobrindo coisas que a gente nem sabia que tinha dito. Na verdade, quanto mais inspirado é o poeta mais transparecem nas entrelinhas de seus textos suas verdades. É na decodificação desses sinais que se encontra o caminho de seus labirintos e os espantos de sua poesia.
          No momento mágico da criação, as ideias vão fluindo como ordenadas por uma energia superior que faz com que o poema transcenda o significado das palavras, e, só assim, se revela a obra do artista. Capaz de fazer soar as cordas de nossa alma, despertando nossos sentidos, abrindo nossos olhos, cantando em nossos ouvidos, tocando nossa pele, fazendo do nosso coração receptáculo para o subjetivo.
          Nem todos são poetas, pintores ou músicos. Nem todos fazem poesia, nem todos compõem música, nem todos pintam telas. Mas conseguem vibrar na frequência do autor, quando lêem quem escreve, escutam quem toca ou admiram uma tela de quem pinta. Pois existe uma linguagem da alma, indiferente a credos, a tempos, a nacionalidades.
          Moisés Menezes usa essa linguagem para transmitir em sua poesia, a um tempo, a sonoridade e os matizes que imprimem cadência e colorido à seus textos, e o conteúdo profundo do sentimento que identifica o homem em qualquer lugar do planeta.
          Atahualpa Yupanqui, respondendo ao jornalista que o entrevistava, disse: Yo no comento mis cosas!
          Na verdade, embora a autocrítica exerça papel fundamental na evolução do artista, não lhe cabe a avaliação de sua obra. Com certeza, Moisés Menezes não cria seus poemas, preocupado com a análise das regras e métodos por ventura utilizados. Isso, deixa para aqueles interessados em mapear os caminhos percorridos por ele em busca de respostas, em cada um de seus poemas. O que vale, quando somos impelidos a rabiscar na folha branca os hieróglifos das nossas peregrinas inquietudes, é a bagagem que guardamos na mala-de-garupa e a carga que trazemos nos pessuelos. Dessa bagagem sairão as cores, o som e as palavras que darão vida à poesia.
           É simples como o mate que oferecemos ao recém chegado. E estão presentes ali os sais da terra onde cresceu a erveira, o tinir do facão do ervateiro, a seiva purificada no carijó, a brasa, o vento, o sol e, despertados pelo calor da água, a memória vegetal do porongo que forneceu a cuia. 

          Pois em suas Peregrinas Inquietudes, Moisés Menezes nos oferece a espontaneidade de sua excelente poesia enriquecida por uma análise cuidadosa de cada um dos poemas que compõem o livro.
          Seus leitores têm assim a oportunidade de deliciar-se com aquilo que o poeta disse e, levados pela mão de estudiosos, descobrir e entender aquilo que ele nem sabia que tinha dito.  Por tudo isso, este é um desses livros que ao concluirmos sua leitura sentimos necessidade de uma reflexão. É instigante desde o primeiro poema, quando pergunta: a quem vingava Latorre feroz de faca na mão?
          Não queremos a resposta.
          São as interrogações que nos fazem andar, e chegar mais longe.

                                     Colmar Duarte


Crescente de janeiro de 2015.  

quarta-feira, 22 de abril de 2015

MIGUEL DE CERVANTES SAAVEDRA

               Romancista, dramaturgo e poeta,nasceu em  Alcalá de Henares29 de setembro de 1547 e faleceu em  Madrid a  23 de abril de1616.
      Sua obra-primaDom Quixote, citado como o primeiro romance moderno, é um clássico da literatura ocidental , considerado um dos melhores romances da literatura universal. Sua obra trabalho é considerado literariamente tão importante , e sua influência sobre a língua castelhana tem sido tão grande que o castelhano é frequentemente chamado de La lengua de Cervantes ,assim como o português seguidamente é citado como a Língua de Camões.



                Filho de um cirurgião , Rodrigo e de Leonor de Cortinas, supõe-se que Miguel de Cervantes tenha nascido em Alcalá de Henares. O dia exato do seu nascimento é desconhecido, ainda que seja provável que tenha nascido no dia 29 de setembro, data em que se celebra a festa do arcanjo San Miguel, pela tradição de receber o nome do santoral. Foi batizado em Castela no dia 9 de outubro de 1547 na paróquia de Santa María la Mayor.
              A certidão de batismo diz:
Domingo, nueve días del mes de octubre, año del Señor de mill e quinientos e quarenta e siete años, fue baptizado Miguel, hijo de Rodrigo Cervantes e su mujer doña Leonor. Baptizóle el reverendo señor Bartolomé Serrano, cura de Nuestra Señora. Testigos, Baltasar Vázquez, Sacristán, e yo, que le bapticé e firme de mi nombre. Bachiller Serrano.
           Em 1569 foge para Itália depois de um confuso incidente (feriu em duelo Antonio Sigura), tendo publicado já quatro poesias de valor. Sua participação na batalha de Lepanto, no ano 1571, onde foi ferido na mão e no peito,7 deixa-lhe inutilizada a mão esquerda que lhe vale o apelido de o manco de Lepanto.
           Em 1575, durante seu regresso de Nápoles a Castela é capturado por corsários de Argel, então parte do Império Otomano. Permanece em Argel até 1580, ano em que é liberado depois de pagar seu resgate.Viveu  em Portugal, entre a primavera de 1581 e a de 1583,na cidade de Lisboa.
O escritor tentava conquistar um lugar de favorito na corte do monarca espanhol, aproveitando os primeiros momentos do reinado português do rei que assumira as doas coroas ibéricas coma morte de D.Sebastião em Alcácer Kibir. Felipe acaba trocando as roupas negras e a gola branca isabelina pelos tecidos ricos e coloridos de Lisboa. Foi neste ambiente de fausto e deslumbramento real que Cervantes chegou à capital portuguesa, onde se terá encantado pela cidade e pelas suas damas. Tendo escrito “Para festas Milão, para amores Lusitânia”. Descreve os lisboinos como agraváveis, corteses, liberais e apaixonados, embora discretos,admirando-se com fervor pela  formosura das mulheres.
              No retorno a Castela casa-se com Catalina de Salazar em 1584, vivendo algum tempo em Esquivias, povoado de La Manchade onde era sua esposa, dedicando-se ao teatro.
              Publica em 1585 A Galatea, o seu primeiro livro de ficção, no novo estilo elegante da novela pastoral. Com a ajuda de um pequeno círculo de amigos, que incluía Luíz Gálvez de Montalvo, com o livro um público sofisticado passou a conhecer Cervantes.
               Encarcerado em 1597 depois da quebra do banco onde depositava a arrecadação, "engendra" Dom Quixote de La Mancha, segundo o prólogo a esta obra, sem que se saiba se este termo quer dizer que começou a escrevê-lo na prisão, ou simplesmente que se lhe ocorreu a ideia ou o plano geral ali.
                Finalmente, em 1605 publica a primeira parte de sua principal obra: O engenhoso fidalgo dom Quixote de La Mancha. A segunda parte não aparece até 1615: O engenhoso cavaleiro dom Quixote de La Mancha. Num ano antes aparece publicada uma falsa continuação de Alonso Fernández de Avellaneda.
               Entre as duas partes de Dom Quixote, aparecem as Novelas exemplares (1613), um conjunto de doze narrações breves, bem como Viagem de Parnaso (1614). Em 1615 publica Oito comédias e oito entremezes novos nunca antes representados, mas seu drama mais popular hoje, A Numancia, além de O trato de Argel , ficou inédito até ao final do século XVIII.
            

 Miguel de Cervantes morreu em 1616, e um ano depois de sua morte aparece a novela Os trabalhos de Persiles e Sigismunda.
                
                  Em 2011, um grupo de investigadores históricos e arqueólogos iniciaram uma busca pelos ossos do autor Miguel de Cervantes na igreja conventual das Trinitarias em Madrid, onde os seus restos mortais foram depositados em 1616, não se sabendo exatamente em que parte do monumento. A iniciativa, que permite reconstruir o rosto do escritor, até agora só conhecido através de uma pintura do artista Juan de Jauregui, conta com o apoio da Academia Espanhola e o aval do arcebispado espanhol.A igreja foi remodelada no final do século XVII, e apesar das certezas de que os restos do escritor espanhol ali se encontram, ninguém sabia o lugar exato onde estará a sua campa.
                       Em fevereiro de 2014 a Comunidade Autônoma de Madri autorizou a busca pelos restos mortais de Cervantes e de Catalina, supostamente enterrados no subsolo do Convento de las Trinitarias Descalzas, com o uso de radar. Em março de 2015 o time multidisciplinar liderado por Francisco Etxeberría confirmou o descobrimento dos restos mortais de Cervantes, identificados pelas iniciais "M.C." em seu caixão. Apesar de uma análise de DNA para confirmar se os restos são de Cervantes não ser possível (devido ao fato de que não são muitos os descendentes vivos do dramaturgo para realizar uma comparação do DNA), o time responsável pela descoberta usou outras informações, como as iniciais no caixão e o fato de que Cervantes pediu para ser enterrado ali, para chegar a conclusão; "São muitas as coincidências e não há discrepâncias. Todos os membros da equipe estão convencidos de que temos entre os fragmentos algo de Cervantes, embora não possamos dizer em termos de certeza absoluta", afirmou Etxeberría.
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quinta-feira, 16 de abril de 2015

XANTIPA E SÓCRATES


                                                Xantipa,Sócrates e os filhos

Xãntipe significa "cavalo loiro", do grego ξανθός "xanthos" (loiro) e ιππος "hippos" (cavalo). Ela é uma das muitas personalidades gregas com um nome relativo a cavalo (cf. Philippos: "amante de cavalo"; Hippocrates: "domador de cavalo" etc). O "hippos" em grego antigo refere-se a um nome de origem aristocrática.Xantipa era a mulher de Sócrates e possivelmente mãe dos três filhos, Lamprocles, Sophroniscus e Menexenus.
              Segundo  Aristóteles citado por Diogenes Laércio, Sophroniscus e Menexenus eram filhos da segunda esposa de Sócrates, Myrto, filha de Aristides, o Justo. Conforme alguns autores,há  mais estórias sobre ela do que realmente fatos verdadeiros.
                Sócrates teve duas esposas; segundo Aristóteles, citado por Diógenes Laércio, a primeira foi Xântipe e a segunda Myrto, filha de Aristides, o Justo. Sátiro e Jerônimo de Rodes, também citados por Diógenes Laércio, dizem que, pela falta de homens em Atenas, foi permitido a um ateniense casado ter filhos com outra mulher, e que Sócrates teria tido Xântipe e Myrto ao mesmo tempo.
                          Platão a descreve como sendo não mais que uma mulher devotada e mãe de família.Xenofonte, em Memorabilia, a retrata da mesma forma, embora demonstre que Lamprocles reclamasse de um temperamento muito forte que talvez se deva  ao foto de  que o mesmo era um adolescente.
                             Apenas em Xenófanes, no Symposium, que vemos Sócrates concordar que ela é "a pessoa mais difícil de se relacionar de todas as mulheres que existem" . No entanto, Sócrates acrescenta que ela a escolheu por causa do seu espírito argumentativo.
             "Mas acostumei-me a ela", dizia Sócrates,"como se acostuma ao rangido de uma velha bica. Você não liga para o grasnar dos gansos."
                Sócrates dizia que vivia com uma mulher desse temperamento da mesma forma que os cavaleiros gostam de cavalos fogosos e "do mesmo jeito que, quando conseguem domá-los, podem facilmente dominar o resto, também eu, na companhia de Xantipa, hei de aprender a adaptar-me ao resto da humanidade." (Diógenes Laércio)
            Sócrates certa vez teria dito:
             "De qualquer modo, case-se. Se você tiver uma boa mulher, será feliz. Se tiver uma mulher como a minha, será filósofo..."

                 Certa vez, ao voltar para casa, um pouco mais tarde do que de hábito, conta-se que, ainda distante, sua mulher, da janela, dizia-lhe desaforos e fazia reclamações, até que, ao passar o filósofo sob a janela, Xantipa atirou-lhe um jarro de água, ao que Sócrates pacientemente respondera: “Bem, é assim mesmo, depois da trovoada vem a chuva.
               Disse Sócrates (cujo sogro o advertira) que a escolhera porque se convivesse com ela poderia tolerar e entender qualquer pessoa no mundo.
                Escrevo isso porque penso que muitos conhecidos meus ainda vão nos surpreender com seus tratados filosóficos e também para recomendar o livro –Sócrates e Xantipa-Um crime em Atenas,do Gerald Messadié, uma ótima leitura .e se encontra na internet com preço acessível.


segunda-feira, 13 de abril de 2015

GÜNTER GRASS




                                        Gunter Grass-Nadine Gordimer - Salman Rushdie      
                                

                         Günter Wilhelm Grass (Danzig16 de outubro de 1927 - Lübeck13 de abril de 2015) foi um autorromancistadramaturgopoetaintelectual, e artista plástico alemão.1 2 Sua obra alternou a atividade literária com a escultura, enquanto participava de forma ativa da vida pública de seu país. Recebeu o Nobel de Literatura de 1999. Também é reconhecido como um dos principais representantes do teatro do absurdo da Alemanha. Seu nome é por vezes grafado Günter Graß.
                               Estudou em Danzig (hoje GdańskPolónia) e, aos dezessete anos, foi convocado a servir nas forças armadas daAlemanha nazista na Waffen-SS. Ferido na guerra de 1945, foi preso em Marienbad, então Checoslováquia, e libertado no ano seguinte. Trabalhou em minas e fazendas e como aprendiz de pedreiro e estudou desenho e escultura na Academia de Arte de Düsseldorf no final da década e frequentou a Academia de Artes de Berlim de 1953 a 1955.
                             Embora escrevesse poemas, lidos para um grupo de escritores influentes, o Grupo 47, foi apenas depois de mudar para Paris, em 1956 que passou a se dedicar à literatura e publicou seu primeiro êxito como escritor, o romance de crítica social "Die Blechtrommel" (O tambor, 1956). Seguiram-se "Katz und Maus" (1961) e "Hundejahre" (1963). Também escreveu poesias e peças de teatro, como em "Noch zehn Minuten bis Buffalo" (1957) e "Die Plebejer proben den Aufstand" (1965). De ideais políticos de esquerda, participou de forma ativa da vida pública de seu país e provocou polêmica em torno de sua produção, renovou a literatura alemã do pós-guerra por meio de textos de ironia e do grotesco, especialmente satirizando a complacente atmosfera do milagre econômico da reconstrução pós-nazista. Entre essas obras de produção mais recente está "Unkenrufe" (1992), traduzido no Brasil como Maus Presságios.
                         Com uma obra que contesta, desde o início, as ideias nazistas que o atraíram na juventude, hoje é considerado o porta-voz literário da geração alemã que cresceu durante o nazismo, e descreve a si mesmo como um Spätaufklärer, um devoto da iluminação em uma era cansada da razão. Ainda destacam-se as novelas "Der Butt" (1977), "Das Treffen in Telgte" (1979) e "Die Rättin" (1986).

                               Recentemente o mundo se chocou com a declaração de Grass, no seu novo livro "Descascando a cebola", de caráter autobiográfico, de sua participação como membro das Waffen-SS (tropa de elite do exército do Reich). Esta revelação fez muitos escritores e jornalistas posicionarem-se a respeito. Alguns desses posicionamentos foram publicados no jornal "O Estado de S. Paulo", no dia 27 de agosto de 2006. Os argumentos dividiram-se basicamente em dois, de um lado estavam os que declaravam que isso não invalidava o valor de seus romances, e que é preciso separar o escritor de sua obra, além de considerarem a pouquíssima idade de Grass quando atuou na Waffen-SS. Do outro, questionaram a demora de Grass em revelar esta participação.
                                   O escritor português José Saramago declarou: "Nunca separei o escritor da pessoa que o escritor é. A responsabilidade de um é a responsabilidade de outro". Já o editor brasileiro Luiz Schwarcz comentou: "Não se pode confundir obra e autor." John Berger, escritor, em um texto originalmente publicado pelo jornal The Guardian, questiona o julgamento a Günter Grass: "A ética determina escolhas e ações e sugere prioridades difíceis. Nada tem a ver com o julgamento das ações dos outros. Tais julgamentos são prerrogativa dos moralistas. Na ética existe humildade; os moralistas acham que estão certos." Em uma entrevista concedida a Der Spiegel, Grass comenta a repercussão que sua atuação na tropa nazista teve e explica-se diante de alguns questionamentos.
                                       Ao ser indagado quanto a demora para a revelação, o escritor alemão declarou: "Acreditava que minha obra como escritor e cidadão era suficiente.", e acrescenta que sempre sentiu vontade de escrever sobre suas experiências, mas num contexto adequado.
                                        O entrevistador da revista Der Spiegel, Ulrich Wickert faz ainda uma relação com um trecho do livro autobiográfico Descascando a Cebola e o romanceO Tambor, buscando no romance um sentimento já revelador desta culpa de atos passados e sua justificação pela pouca idade: "No instante em que invoco o garoto de treze anos que eu era na época, em que o tomo como incumbência, e me sinto tentado a julgá-lo, ele me escapa. Ele não quer ser avaliado ou julgado. Foge para o colo da mãe e diz: 'Eu era apenas um garoto, apenas um garoto.'." (Descascando a Cebola).
                         "Não sou responsável pelas coisas que fiz quando criança." (Personagem Oskar em O Tambor).
                                 Em um outro romance ainda podemos verificar o aparecimento de um possível traço autobiográfico e sua relação com este sentimento de culpa, trata-se de Maus presságios. É revelado sobre os protagonistas Alexandre e Alexandra: "Não era necessário remexer no passado, porque as poucas aventuras à margem traziam lembranças inexatas ou mal ordenadas. E o fato de que ele, aos quatorze anos e meio, tivesse sido soldado e ela, aos dezessete, membro entusiasta da organização das juventudes comunistas era perdoado aos dois, mutuamente, como defeitos congênitos de sua geração; não era preciso descer a nenhum abismo; até porque ele, nos momentos em que duvidava de si próprio, dizia que tinha de lutar continuamente contra o jovem hitlerista que tinha dentro de si…"


EDUARDO GALEANO




                        Eduardo Hughes Galeano (Montevidéu3 de setembro de 1940 - Montevidéu, 13 de Abril de 2015) foi um jornalista e escritor uruguaio.1 É autor de mais de quarenta livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem gêneros ortodoxos, combinandoficção, jornalismo, análise política e História.
                          Nasceu em 3 de setembro de 1940 em Montevidéu em uma família católica de classe média de ascendência europeia. Na infância, Galeano tinha o sonho de se tornar um jogador de futebol; esse desejo é retratado em algumas de suas obras, como O futebol de sol a sombra (1995). Na adolescência, Galeano trabalhou em empregos nada usuais, como pintor de letreiros, mensageiro, datilógrafo e caixa de banco. Aos 14, vendeu sua primeira charge política para o jornal El Sol, do Partido Socialista.
                         Iniciou sua carreira jornalística no início da década de 1960 como editor do Marcha, influente jornal semanal que tinha como colaboradores Mario Vargas Llosa e Mario Benedetti. Foi também editor do diário Época e editor-chefe do jornal universitário por dois anos. Em 1971 escreveu sua obra-prima As Veias Abertas da América Latina.
                          Em 1973, com o golpe militar do Uruguai, Galeano é preso e mais tarde forçado a se exilar na Argentina, onde lançou Crisis, uma revista sobre cultura. Em 1976, com o sangrento golpe militar liderado pelo general Jorge Videla, tem seu nome colocado na lista dos esquadrões de morte e, temendo por sua vida, exila-se na Espanha, onde deu início à trilogia Memória do Fogo. Em 1985, com a redemocratização de seu país, Galeano retornou a Montevidéu, onde vive ate hoje.
                              A obra mais conhecida de Galeano é, sem dúvida, As Veias Abertas da América Latina. Nela, analisa a História da América Latina como um todo desde o período colonial até a contemporaneidade, argumentando contra o que considera como exploração econômica e política do povo latino-americano primeiro pela Europa e depois pelos Estados Unidos. O livro tornou-se um clássico entre os membros da esquerda latino-americana. Em Brasília, após mais de 40 anos do lançamento do seu mais famosa obra, durante a 2ª Bienal do Livro e da Leitura, Eduardo Galeano admitiu ter mudado de ideia sobre o que escrevera. Disse ele: "'Veias Abertas' pretendia ser um livro de economia política, mas eu não tinha o treinamento e o preparo necessário". Ele acrescentou que "eu não seria capaz de reler esse livro; cairia dormindo. Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é extremamente árida, e meu físico já não a tolera.".
                      Memória do Fogo é uma trilogia da História das Américas. Os personagens são figuras históricas: generais, artistas, revolucionários, operários, conquistadores e conquistados, que são retratados em pequenos episódios que refletem o período colonial do continente. Começa com os mitos dos povos pré-colombianos e termina no início da década de 1980. Na obra, Galeano destaca não apenas a opressão colonial, mas também atos individuais e coletivos de resistência. A obra foi aclamada pela crítica literária e Galeano foi comparado a John Dos Passos e Gabriel García Márquez. Ronald Wright, do suplemento literário do The Times, escreveu que "os grandes escritores dissolveram gêneros antigos e encontraram novos. Esta trilogia de um dos mais ousados e talentosos da América Latina é impossível de classificar".
                     O Livro dos Abraços é uma coleção de histórias curtas e muitas vezes líricas, apresentando as visões de Galeano em relação a temas diversos como emoções, arte, política e valores. A obra também oferece uma crítica mordaz à sociedade capitalista moderna, com o autor defendendo aquilo que acredita ser uma mentalidade ideal à sociedade. Para Jay Parini, do suplemento literário do The New York Times, é talvez a obra mais ousada do autor.
                            Como ávido fã de futebol, Galeano escreveu O futebol ao sol e à sombra, que revisa a trajetória histórica do jogo. O autor o compara com uma performance teatral e com a guerra; critica sua aliança profana com corporações globais ao mesmo tempo em que ataca intelectuais de esquerda que rejeitam o jogo e seu apelo às massas por motivos ideológicos.
                             Em seu livro mais recente, Espelhos, o autor tem o intuito de recontar episódios que a história oficial camuflou. Galeano se define como um escritor que remexe no lixão da história mundial.
                    Apesar da clara inspiração e relevância histórica de suas obras, Galeano nega o caráter meramente histórico destas, comentando que é "um autor obcecado com a lembrança, com a lembrança do passado da América e, sobretudo, da América Latina, uma terra intimamente condenada à amnésia".

                           Uma das citações mais memoráveis de Galeano é "as pessoas estavam na cadeia para que os presos pudessem ser livres", se referindo ao regime militar (1973-1985) de seu país.

sábado, 11 de abril de 2015

PEREGRINAS INQUIETUDES-O PREFÁCIO


                                                                  
                                               PREFÁCIO


                   Antes de abordar este livro de Moisés Menezes, propria­mente dito, cumpre-me externar três observações. As quais, aliás, são fundadas em opiniões muito pessoais, mas que alcançam a opinião comum de muitos outros nessa diversidade imensa que é o país em que vivemos. Diversidade que, por vezes, leva-nos a imaginar que qualquer equívoco cultural esteja enraizado em nós mesmos. Não nos outros. Uma dessas observações, por exemplo, diz respeito à cultura que nos identifica e nos caracteriza como um agregado humano específico. Outra que se refere a determi­nados gostos que definem nossas predileções por arte, literatura, cinema, música, teatro e assim por diante. Outra, ainda, relacio­nada ao modo como lidamos com tudo isso.
                       Os elementos que definem nossa identidade cultural pas­sam, necessariamente, por insondáveis conteúdos por vezes quase indecifráveis para a maioria da população. Pois, afinal, um país com estas dimensões, recheado de costumes diferentes, formado em múltiplas circunstâncias históricas, dificilmente pode ensejar uma compreensão linear de tudo que se acumulou ao longo do tempo. Afora esse problema, um outro, relacionado com a tão co­nhecida desigualdade social. Pois, foi nessa desigualdade que se formou uma elite, que considera não apenas a condição social dos diferentes estamentos, mas também aquilo a que poderíamos de­nominar de “gosto pelas coisas”.
Um abismo imenso se formou a partir do gosto, que colo­ca uns em determinada alçada, outros em outra. Isto é, objetos de gosto de uns, muitas vezes é objeto de “não gosto” de outros. Uma situação que revela, seja no mundo inteligente das academias e dos salões frequentados com glamour e sofisticação, seja no mun­do comum das pessoas que não se preocupam com aquilo a que se denominaria “protocolo estético”, desnível de incontornável re­paração. Não é fácil lidar com esta questão. Porque o que alguns
apreciam, outros não. Mas o fato dessa diferença de gosto interpõe uma abjurada condição de mais desigualdade.
                     Talvez poucos conheçam o nome do biógrafo de Emílio de Menezes, Campos Sales e José de Alencar, o saudoso escritor Rai­mundo Álvaro de Menezes, antigo presidente da União Brasileira de Escritores. Em minha juventude eu passei alguns anos datilo­grafando (que era como se falava, então) originais de algumas de suas mais importantes obras. No momento em que ele organizava o grande Dicionário Literário Brasileiro, depois de determinar o formato dos verbetes, passou-me centenas de folhas com nomes de autores importantes e conhecidos, recomendando que o trata­mento para todos deveria ser igual, variando apenas a ordem de entrada de cada um segundo a ordem alfabética dos respectivos nomes.
                        Com o passar do tempo, a obra engrossando e os nomes sendo acrescentados na medida em que eram localizadas obras nem tão conhecidas, entregou-me quase um milhar daqueles que viriam a se converter em pequenos, quase minúsculos verbetes. Quando levei de volta a série acabada desses novos autores, depois de ler todos os textos, apanhou uma caneta esferográfica vermelha e suprimiu de algumas dezenas de verbetes a palavrinha que eu acrescentara à definição biográfica de cada um. Inúmeros desses autores eram poetas com obras publicadas pelo interior, princi­palmente, de Goiás a São Paulo, de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul, de Mato Grosso ao Amazonas. Virou-se para mim e disse: “são todos poetas, não existe poeta regional, que é uma inven­ção da crítica; pois poesia é uma só, gênero literário de qualquer grandeza, que consagra o autor pela obra e não pelo lugar de onde vem, ou de onde fala”.
               Aprendi a lição para a vida.
               A apresentação desta obra de Moisés Menezes, como não seria de supor diferente, envolve as relações entre aquilo que uma crítica constituída já deliberou inserir nas estantes principais da literatura, como aquela outra obra, por vezes despretensiosa, mas
que contém em si uma importância inesperada. Seja pelos ecos que ressoarão no futuro uma lírica de resgate de nossos mais sa­grados valores, seja pela evocação presente de feitos no passado, dos quais não poderemos nos apartar. Pois, afinal, somos o que somos, porque viemos de onde viemos. Nada nem ninguém pode modificar essa circunstância, que é histórica e cultural.
                         Moisés Menezes é autor de obra vasta. Pode-se mesmo di­zer que ele é, antes de tudo, um intelectual, um recuperador e um artista. Intelectual que reflete e faz refletir sobre a origem de todos nós. Uma origem que só será valorizada no contexto de outras culturas, na medida em que saibamos inseri-la no acervo da Civi­lização. Para tanto, dependemos da capacidade criativa de intelec­tuais como ele. Razão pela qual, como autor ele é um recuperador. Recupera por meio da literatura que cria a cenas e o cenário por onde transitaram os atores dessa representação da qual resulta­mos.
                      Nesse itinerário criativo ele se revela artista, pois reconstrói a partir de sua literatura lírica a inefável poesia dos descampados, das pradarias, dos fogos de chão, das trovas e, principalmente, dos sonhares que a idade acaba arrebatando e no lugar deposita o sen­timento de uma “gauchidade” que existe, ou existiu, à mercê de um tempo transformado.
Brindo ao poeta Moisés Menezes com uma de suas pró­prias estrofes: “O tempo o vai / esculpindo / sem olvidar velhas crenças / e um guerreiro libertário / vai-se forjando ‘al despacio’ / no contraponto dos dias”.


                                            Victor Aquino *




* Gaúcho de Tupanciretã. Doutor em ciências. Professor titular da Escola de Comuni­cações e Artes da Universidade de São Paulo, da qual foi diretor entre 1997 e 2001. Pre­sidente da ABECOM (Associação Brasileira de Escolas de Comunicação) entre 1999 e 2002. Fundador e primeiro presidente da FUNDAC (Fundação para o Desenvolvimento das Artes e da Comunicação) e i-DN (Instituto Dona Neta) mantenedor do Instituto da Moda e INMOD France. Autor de 84 obras, a maioria disponível para leitura em www.victoraquino.com.











terça-feira, 7 de abril de 2015

PEREGRINAS INQUIETUDES


PEREGRINAS INQUIETUDES
Moisés Menezes

De onde vieram!?
Pra onde irão!?
Donde Vivem!?
Isso tudo me inquieta...

Guardavam antigos mistérios
vindos na crina dos ventos
com temporais do deserto.
Viveram junto da bela
que encantou o grande rio,
tempos de sol-divindade
magia, brumas e véus,
três enigmas na areia.

Erraram por muitos mares
buscando por certa ilha,
zombaram das flechas persas
trezentos contra um império.
Ultrapassaram limites
das cavernas platonianas ,
condores bateram asas
pra fazer ninho nos Andes.

Palmilharam muitas plagas,
viveram mil e uma noites
sob os fulgores de Alhambra.
Sonatas em rebeldia
no ventre das andaluzas,
luso-hispanica epopéia
velas ao vento nos mares
singraram, sangraram terras.

Augustas legiões guerreiras
acalmaram o flagelo
pra que a grama rebrotasse.
Embriagados no perfume
daquelas belas de Atenas,
alaram visões socráticas
para beber do absinto
nos cabarés de Paris.

De onde vieram!?
Pra onde irão!?
Donde Vivem!?
Isso tudo me inquieta...

Antigas canções mogonis
cantaram glórias do império
ao longo do grande muro.
Trovador do Langhedoc
clareou as trevas do bronze
encantando as castelãs.
Se apresenta um campeador
- Dom Rodrigo de Vivar.

Sob o luar das estepes,
alegres e rudes bailados
ao som das gaitas cossacas.
Cruzaram oceanos e mares
nunca dantes navegados
tres hileras botoneras
sonorizando as ramadas
nos dois lados do Uruguai.

Surgiram com os Aedos
amados por sete musas,
abençoados pelos deuses.
Dos bardos da Gália-Celta
aportam cordas e rimas
nas canchas retas da pampa,
eternizando em payada
Fausto,Vega e Martim Fierro

Os troveiros da Toscana
espada, capa ,sombrero
beberam água sagrada
das grandes gestas do Ganges,
prá ressurgirem na pampa
seguindo estranho lunar
libertando aves canoras
nas carpas e pulperias.

Viajores desde sempre
brincaram de amor primeiro
entre jardins encantados.
Viram terras prometidas
seguindo aquele que um dia
surgiu do seio das águas,
depois de um tempo de penas
pelos infernos de Dante.

De onde vieram!?
Pra onde irão!?
Donde Vivem!?
Isso tudo me inquieta...

Peregrinas Inquietudes
Vieram juntando lonjuras
na convergência do belo,
irão talvez por suposto
bem além dos horizontes.
Vivem todos por ai
vagando pelos ocultos
um pouco acima da terra,
um pouco abaixo do céu.

A INQUIETUDE FABRIL DO POETA
André Corrêa Rollo
Prof. Doutor em Literatura Comparada/UFRGS

                 O poema “Peregrinas inquietudes”, de Moisés Silveira de Menezes, forma, desde seu título-imagem, uma teia conceitual que persegue as respostas para os questionamentos expressos na estrofe inicial. As inquietudes manifestadas na estrofe-refrão (é retomada duas vezes ao longo do poema) são o mote para que a voz do poema (ou eu-lírico) teça um vasto inventário da trajetória humana e do imaginário da espécie.
                   A leitura atenta destes versos que perscrutam permite que várias camadas (“véus”) de textos, subtextos e intertextos se re­velem, se realcem e, ao mesmo tempo, continuem unidas e so­brepostas. O paradoxo ali manifesto é pertinente e, até mesmo, necessário devido à estrutura do poema. A manifestação poética nos remete ao importante e influente ensaio do escritor norte­-americano T. S. Eliot intitulado A tradição e o talento individu­al. Pois este título resume o trabalho poético de Moisés Menezes, como estudioso das tradições (literárias e regionais) e como poeta que não descuida nem da herança, nem da criação.
                     Antes de deixar-nos conduzir pelas peregrinas questões pelas quais o poema nos leva, é interessante lembrar da teoria de Eliot. O autor de “A Canção de amor de J. Alfred Prufrock” define a tradição como algo que não pode ser meramente herdado, mas obtido com trabalho árduo, dependente do sentido histórico: [...] o sentido histórico compreende uma percepção não só do passa­do mas da sua presença; o sentido histórico compele o homem a escrever não apenas com a sua própria geração no sangue, mas também com um sentimento de que toda a literatura europeia desde Homero, e nela a totalidade da literatura da sua pátria, pos­sui uma existência simultânea e compõe uma ordem simultânea. Esse sentido histórico, que é um sentido do intemporal bem assim como do temporal, e do intemporal e do temporal juntos, é o que torna um escritor tradicional. E é, ao mesmo tempo, o que torna um escritor mais agudamente consciente do seu lugar no tempo, da sua própria contemporaneidade. (ELIOT, s. d., p. 23)
                       Com toda a propriedade os dois lados de Moisés (o poeta e o pesquisador da poesia) mostram a percepção deste processo descrito por Eliot. Tanto no ensaio (e antologia) poético-histórico Das Margens do Nilo às Barrancas do Uruguai como neste poe­ma “Peregrinas Inquietudes” podemos ver que o autor se situa, ou melhor, insere-se naquela dialética espaço-temporal da simulta­neidade. Se naquele o ensaísta traçava o inventário poético desta “ordem simultânea” sem contentar-se apenas (como se fosse pou­co) com “a literatura europeia desde Homero” (passeando tam­bém por tradições chinesa, hindu, árabe, hebraica e egípcia), neste o poeta percorre as sendas destes imaginários tão diversos e tão unidos ao mesmo tempo.
E o inquieto espírito e suas indagações colocam não como mera questão de heranças, fontes ou influências tais relações como as que ligam a Andaluzia, o Cone Sul e o mundo árabe, por exemplo. Este mosaico composto por Moisés Silveira de Menezes mostra exemplarmente o domínio do “sentido histórico” eliotia­no. Ali vemos o homem que se apropria da tradição (leia-se no plural) percebendo a “ordem simultânea” que une o temporal e o intemporal e que, sendo homem do seu tempo e de seu local, é homem de todas as eras e lugares.
                         O plural ao qual eu peço a atenção quando falo em tra­dição deve-se à privilegiada posição do Moisés. Dominando a tradição local do pampa e conhecendo bem tanto o trabalho dos mestres quanto de seus pares contemporâneos, o poeta e ensaísta insere esta tradição naquela simultaneidade do imaginário mun­dial. A literatura gaúcha e suas nuances, no trabalho do autor, es­tão não apenas dentro daquela tradição mais ampla. Nesta viagem elas (as mais distintas tradições) estão de prosa no bolicho das Musas, passando adiante fragmentos do imaginário; às vezes de

forma agressiva como a bocha acerta a sua oposta, às vezes frater­namente como o mate que passa de mão em mão.
A cartografia literária revelada em “Peregrinas inquietu­des” já estava presente no subtítulo do trabalho ensaístico de Moi­sés Menezes (“Uma viagem pela geografia do verso”), é a cartogra­fia do imaginário do “mundo mundo vasto mundo”, quiçá infinito em sua delimitada circunferência.
Neste mapeamento literário cruzam-se ou, melhor, dialo­gam a história, a mitologia, a filosofia, a literatura oral e a litera­tura autoral. Uma vez que falo em simultaneidade de tradições, falo em pluralidade na unidade conceitual. Por isso não é absurdo dizer que o poema expressa o elogio da literatura aut(oral) ou até mesmo alt(oral), pois expressa outridades e alteridades várias.
Transitando nestas várias partes e épocas deste “vasto mundo” o(s) Moisés conhece(m) as várias poéticas possíveis, que expressam e/ou sensibilizam o rural e o citadino, o letrado e o homem de poucas letras. Naquele interstício espaço-temporal em que O Capote (Gogol) e o Romance do pala velho (Noel Guarany) dialogam, o cartógrafo Moisés mapeia, como bom poeta que é, a trajetória humana. Neste campo intersticial onde ocorre “tudo ao mesmo tempo agora”, o homo sapiens transforma-se no homo faber poético.
Ainda é necessário ressaltar que Moisés domina não so­mente a expressão poética, mostrando a mesma maestria na con­figuração da musicalidade do verso. Desde a sequência de frica­tivas (“zombaram das flechas persas”) e sibilantes (“abençoados pelos deuses”) até os versos em que as imagens expressas por pala­vras extremamente sonoras, habilmente, amalgamam os aspectos imagéticos e fônicos (“alegres e rudes bailados / ao som das gai­tas cossacas” ; “três hileras botoneras / sonorizando as ramadas”). Nestes breves e exemplares versos, Moisés não apenas fala sobre música, ele realiza a musicalização através do léxico. Resumindo, esta é a diferença entre o fazedor de versos e o poeta.


                            Moisés Silveira de Menezes é um conhecedor da arte poé­tica em seus vários ângulos e matizes e, por isso mesmo, um exí­mio poeta. E o melhor de tudo é que nosso poeta Moisés, maduro e jovem ao mesmo tempo, tem muito a nos oferecer em sua car­reira ainda em processo. “Pra onde irão !?” Não sabemos! Suas obras futuras, contudo, posso afirmar que seguirão nos conduzin­do através do caminho da boa literatura.


REFERÊNCIAS

ELIOT, Thomas Stearns. A tradição e o talento individual. In: En­saios de doutrina crítica. Lisboa: Guimarães, [s. d.]. 160