AS VISAGENS DE UM TEMPLÁRIO
Rodrigo Canani Medeiros
Um cavaleiro templário
vigia a “Porta de Sangue”
onde outrora este Castelo,
de Tomar, em Portugal,
foi palco de resistência
das ofensivas mouriscas,
de califas e almóadas.
Do alto destas muralhas
o Cavaleiro de Cristo
mira longe a Estremadura
e se põe a refletir...
Hugo de Payens
Cavaleiros Templário
A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, melhor conhecida como Ordem dos Templários é uma Ordem de Cavalaria criada em 1118, na cidade de Jerusalém, por nove cavaleiros de origem francesa, entre os quais Hugo de Payens e Geoffroy de Saint-Omer, visando a defesa dos interesses e proteção dos peregrinos cristãos na Terra Santa.
Sob a divisa Non nobis,
Domine, non nobis, sed nomini Tuo da gloriam (Não a nós, Senhor, não a nós, mas
ao Vosso nome daí a glória), tornou-se, nos séculos seguintes, numa instituição
de enorme poder político, militar e econômico.
Inicialmente, as suas funções limitavam-se à proteção
dos peregrinos que se deslocavam aos locais sagrados, nos territórios cristãos
conquistados na Terra Santa, durante o movimento das Cruzadas. Nas décadas
seguintes, a Ordem beneficiou-se de inúmeras doações de terra na Europa que lhe
permitiram estabelecer uma rede de influências em todo o continente.
No dia 13 de Outubro de
1307, uma Sexta-feira, foi preparada uma armadilha à Ordem dos Templários, pelo
papa Clemente V, sob pressão do Rei da França Philip IV-O Belo-Foram enviadas
inúmeras missivas com o selo papal para diferentes pontos da Europa indicando
que fossem abertas exatamente a uma hora.
O teor acusava peremptoriamente
os Templários de traição à Igreja, declarando os hereges, sendo por isso da máxima
importância o seu extermínio. A Ordem dos Templários foi praticamente extinta,
refugiando-se um pequeno grupo nas ilhas britânicas, um outro grupo em França
sobre o nome de Priorado de Sião, e em Portugal, sob guarda do Rei D. Dinis, um
outro grupo de sobreviventes criou a Ordem de Cristo.
O massacre dos templários deu-se em
França , no dia 13 ,a uma sexta feira do ano de 1307. Esse foi de facto
para os Templários um mau dia. Nascia assim o dia de todos os azares. E ainda
hoje, sempre que é sexta-feira 13, acreditamos que seja um mau dia!
O Grão-mestre Jacques de
Molay e outros três Cavaleiros do topo da hierarquia da Ordem, que num primeiro
momento, sob tortura, reconheceram ter praticado estes "crimes" foram
condenados à prisão perpétua. Porém, no dia da proclamação pública desta
sentença, na presença dos quatro acusados, Jacques de Molay interrompeu a
leitura da sentença e num discurso comovente voltou atrás e rejeitou todos
crimes já reconhecidos. Tendo sido acompanhado, neste ato, por apenas um dentre
os outros três cavaleiros presentes. Num processo contra heresia, que é o caso,
um condenado que reconhece sua culpa e volta atrás torna-se um "herege
reincidente", a partir de então ele não merece mais a absolvição da Igreja
e passa para o controle da justiça secular, neste caso, o Rei da França, Filipe
o Belo. Jacques de Molay e o outro cavaleiro que o acompanhou no discurso foram
queimados de maneira sumária na manhã seguinte, a mando do Rei, em Paris, no
ano de 1314. A fogueira ocorreu em algum lugar na atual ilha de Saint Louis ou
ainda na ilha de Notre Dame.
O julgamento dos Templários arrastou-se
por anos e embora muitos dos seus membros tenham sido condenados e queimados, a
ordem em si não foi considerada culpada.
A Ordem teve uma extinção formal através da
bula papal do Concílio de Vienne, entretanto o destino prático da mesma nos
diversos países onde ela se encontrava foi muito variado. Na França ela foi
totalmente suprimida e seus bens móveis foram incorporados pela estrutura real,
já seus bens imóveis foram transferidos, não sem muito esforço, para a Ordem
dos Hospitalários (Ordem Hospitalária de São João de Jerusalém) conforme
orientação direta do Papa Clemente V. O destino de seus membros não é muito
claro, mas vários deles foram totalmente reintegrados à sociedade inclusive em
postos de destaque.
Na Inglaterra, Irlanda e Escócia, o destino dos bens materiais foi
ligeiramente diferente, pois o Rei da Inglaterra, que inicialmente custou a
aceitar a determinação papal e a ação do rei francês, acabou por vislumbrar uma
grande oportunidade de aumentar seu patrimônio. Assim, mesmo tendo tratado de maneira
branda os membros da Ordem sob sua jurisdição, apossou-se dos bens da Ordem e,
em grande parte, ignorou a orientação papal de transferi-los para a Ordem dos
Hospitalários. Vários dos Cavaleiros e membros da Ordem Templária, muitos dos
quais já fazendo parte da corte inglesa, foram aceitos e integrados aos
diversos condados e ducados na Inglaterra, Irlanda e Escócia.
Na Península Ibérica, o resultado prático do fim da Ordem foi totalmente
diferente. O Papa reconheceu um pedido dos soberanos locais de manter os bens
que os Templários mantinham em seus reinados, destinando-os a outras Ordens. Em
Portugal foi criada, em 1319, a Ordem de Cristo (em latim,Ordo Militiae Jesu
Christi) que teve como seu primeiro Mestre o antigo Mestre Templário em
Portugal e que manteve praticamente a mesma estrutura material e hierárquica da
ordem anterior, porém sob controle real.
Nos reinos de Castela e Aragão os
bens foram entregues a ordens já existentes, também ligadas aos reis locais.
Vários de seus membros foram automaticamente incorporados às mesmas.
Na Alemanha, onde as propriedades da Ordem eram inferiores, embora seus
membros tenham recebido um tratamento e julgamento dignos, seus bens foram
totalmente incorporados aos Cavaleiros Teutônicos (Cavaleiros Teutônicos do
Hospital de Santa Maria de Jerusalém) ou em alemão, Deutscher Ritterorden. Não
se tem uma informação precisa sobre o destino de seus membros originais, porém
não temos motivo para afirmar que não tenham sido aceitos entre os Teutônicos -
cuja rivalidade com os Templários não era a mesma apresentada pelos
Hospitalários.
Quando os Templários passaram a ser perseguidos na França, Portugal
recusou-se a obedecer à ordem de prisão dos seus membros. Na verdade os
portugueses tinham os Templários em alta conta, já que ajudaram nas guerras de
Reconquista que expulsaram os mouros da península Ibérica, e possuíam grande
tecnologia de locomoção terrestre e marítima, útil a D. Dinis (1279-1325).
Após a aniquilação dos Templários na maior parte da Europa, a Ordem
continuou em Portugal, como Ordem de Cristo (da qual o Infante D. Henrique foi
grão-mestre). Toda a hierarquia foi mantida e na cruz vermelha sobre o pano
branco, símbolo templário, foi acrescida uma nova cruz branca em seu centro, simbolizando
a pureza da ordem.
A Ordem de Cristo herdou todos os bens dos Templários portugueses e
desempenhou um papel fulcral nos descobrimentos portugueses. Por um lado,
emprestaram recursos para a coroa portuguesa financiar os avanços marítimos,
por outro, transmitiu à chamada Escola de Sagres todo o vasto conhecimento que
já dispunham sobre navegação após anos singrando o mar Mediterrâneo. Essa
ligação íntima explica porque as caravelas portuguesas tinham as suas velas
pintadas com a cruz teplária.
Alguns
templários também se dirigiram para a Escócia, onde foram recebidos de bom
grado e se incorporaram no exército escocês. A experiência e destreza dos
cavaleiros templários foi importante nas batalhas que culminaram com a
libertação do país do domínio inglês. Na Escócia tiveram liberdade suficiente
para continuar as suas atividades sem ser incomodados pela inquisição da Igreja
Católica, tendo-se misturado a fraternidades maçônicas, onde se originou,
segunda a lenda, a Franco-Maçonaria.
Ainda requer um estudo meticuloso . A destruição da Ordem do Templo propiciou ao rei francês não apenas os tesouros imensos da Ordem (que estabelecera o início do sistema bancário), mas também a eliminação do exército da Igreja, o que o tornava senhor rei absoluto, na França.
ResponderExcluirNos demais países a riqueza da ordem ficou com a Igreja Católica.