TOBIANO CAPINCHO
Aureliano
de Figueiredo Pinto
“Este
tobiano de Estância
foi o
bicho mais maleva
que o
diabo inventou pra um peão!
Zolhos
de chancho, cabano,
sargo,
coiceiro, aragano,
manoteador
e bufão.
Peão
que chegasse atrasado
na
segunda, mui sovado
da
farra pelo rincão
já se
sabia - a sua pena
era
encilhar o ventana
que ansim
mandava o Patrão.”
...................................
A origem do cavalo malhado
americano, data de 1519, quando o explorador espanhol Herman Côrtes trouxe para
o continente americano uma tropa composta de 16 cavalos de guerra, entre os
quais havia um branco com malhas escuras no ventre. Do cruzamento deste
garanhão malhado com os nativos "mustangs" americanos originaram-se
os cavalos "Pinto" e "Paint".
No Brasil, não há registro de uma
data precisa da primeira introdução de animais de pelagem tobiana, mas
acredita-se que a pelagem foi introduzida através de alguns poucos cavalos de
origem bérbere, trazidos pelos colonizadores portugueses e, principalmente,
pelos cavalos holandeses, quando da invasão de Pernambuco.
Para os índios cavaleiros das
planícies do oeste americano, cavalos manchados tinham muito valor e chegavam a
atribuir-lhes poderes quase divinos, pois apresentavam de forma natural o
singular colorido, semelhante as pinturas que costumavam realizar no próprio
corpo, como ritual de proteção e sorte, antes de partirem para combates ou
caçadas. O
oeste americano foi desbravado nas patas de cavalos tobianos tornando-se as
montarias de preferência dos índios e, particularmente, dos índios
"Comanches", famosos pelas suas exímias habilidades como cavaleiros
idolatravam os cavalos malhados por acreditar serem os favoritos dos Deuses.
Os índios americanos e os antigos
apreciadores dos cavalos manchados por razões mágicas e míticas ou pura paixão,
priorizaram a pelagem à outras características não menos importantes
desconsiderando a morfologia e a aptidão para atividades mais específicas(aí
talvez a origem do preconceito).
Nascido em Sorocaba (SP) em 4
de outubro de 1.795, numa família de fazendeiros, o brigadeiro Rafael Tobias de
Aguiar teve uma biografia tumultuada e uma curiosa relação com o RS.
Casou-se
em 14 de junho de 1.841 com Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de
Santos, ex-amante de D. Pedro I.
Por duas vezes presidente da
Província de São Paulo, o brigadeiro Tobias de Aguiar liderou em 1.842 a
Revolução Liberal contra o Império ao lado do padre Diogo Antônio Feijó. Com
1.500 homens na chamada Coluna Liberal, partindo de Sorocaba, tentou invadir
São Paulo não obtendo sucesso.
Derrotado o brigadeiro fugiu com
seu exército para o Rio Grande do Sul para juntar-se aos farroupilhas. A maioria
dos soldados montavam cavalos pampas, inicialmente conhecidos no sul como
tobianos. Quando do retorno à São Paulo, estes cavalos passaram a ser
gradualmente conhecidos no resto do país como os cavalos dos "Pampas"
A palavra, que se generalizou, é utilizada em todo o sul do Brasil, além do
Uruguai e Argentina.
Em Vocabulário Sul-rio-grandense Luiz
Carlos de Morais informa:
“- os gaúchos rio-grandenses cunharam o termo tobiano em homenagem ao
guerrilheiro paulista (Tobias de Aguiar) que viera prestar concurso aos
soldados de 35 e não aos seus conterrâneos, como afirma o autor do vocabulário
Nheengatú. Nós chamamos de tobianos os pampas, usando um brasileirismo em
substituição a palavra quichua. Em S. Paulo e alhures a generalização do nome
indígena pampeano não cedeu lugar aquele derivado do valente brigadeiro da
histórica cidade bandeirante.”
Essa afirmação de Luiz Carlos de Morais também encontra amparo em
Afonso A. de Freitas na obra Vocabulário Nheengatú e o general Manoel do Nascimento
Vargas, em carta a Sylvio da Cunha
Echenique reforça os dois autores acima nomeados:
“-Tenho presente o que ouvi de meu
Pai, na minha infância, sobre o cavalo tobiano. Dizia ele que esse cavalo havia
sido introduzido no Rio Grande por um coronel ou general Tobias que, partindo
de Sorocaba, a frente de gente armada com o propósito de auxiliar a revolução
farroupilha, trazia na força esses animais. Fora batido, não logrando seu
propósito. Forneceu, porém, a origem da pelagem referida, que se propagou no
Rio Grande, tendo-o como patrono. Não considero-a como caraterística da nossa
raça Crioula. Em minha infância, as pelagens preferidas para o cavalo Crioulo
eram a tordilha, e zaina, alazã, moura, pangaré e mais alguma.”
Em Formação e Evolução das Estâncias
Serranas, Aristides Gomes assim afirma sobre o tobiano:
“-Já no final da Revolução Farroupilha, o
Brigadeiro Rafael Tobias que tentara uma revolta em São Paulo, emigrou para o
Rio Grande.Trouxe na sua comitiva diversos animais de pelagem malha-chamava de
"pampas" . A animalada crioula do Rio Grande era de variadíssima
pelagem mas não existia aqui os tais pampas .
Rafael Tobias
presenteou alguns reprodutores daqueles ao seu amigo, Dr. Antonio Gomes
Pinheiro Machado. Esses animais reproduziram-se espalhando por toda a Província
os seus descentes, cujas pelagens eram persistentes. Os campeiros deram-lhes
nome de “tobianos", em virtude de terem sido introduzidos aqui Tobias.
Entretanto, os tobianos
eram considerados cavalos sem resistência e caborteiros. Efetivamente,
provinham eles da zona temperada, criados em meio calmo e seriam procedentes
dos pesados de Flandres, com temperamento mau.
Os crioulos, criados
nos rigores do inverno e nos calores verão, correndo em campinas enormes ao
lado da égua-mãe e magotes de eguada gaviona, cruzando arroios a nado,
banhadais barro à meia-barriga, serranias de pedras, vencendo pelo mais forte à
vontade da natureza, castrados e pegados a laço e boleadeiras, para domar, de
colmilhos amarelos e vigorosos, eram de temperamento amoldável e ágil, tinham
de ser mais resistentes e melhores.
Mas, com o
cruzamento contínuo, criação livre e os hábitos de domas e arrocino do gaúcho,
os tobianos tornaram-se também resistentes, ágeis e tambeirões, confundindo-se
com os crioulos.
Daí formarem-se
belíssimas tropilhas de tobianos pretos, vermelhos, mouros, gateados e outras
variações de pelagens. Até pilhas de mulas tobianas existiram, e lindaças.
Ainda hoje
encontram-se no Estado, embora raras, tropilhas e manadas de tobianos. Diz
Pedro Sarciat que, na Argentina, o primeiro Tobiano a entrar teria sido
regalado a Don Justo José. Urquisa, a quem somente interessava a pelagem e não
as qualidades do cavalo.”
Ao longo da história, em
diferentes momentos, houveram diferentes razões circunstanciais que
determinaram o preconceito à pelagem manchada, no entanto avanço do
conhecimento genético na transmissão das pelagens, o rigor dos controles dos
registros genealógicos e a importância do treinamento na evolução do cavalo
crioulo moderno permite afirmar que se o atual cavalo crioulo perdeu um pouco
da rusticidade certamente ganhou em beleza e
funcionalidade e o desafio para o crescente número de apreciadores do
moderno crioulo tobiano, é buscar a pelagem
priorizando a morfologia e a genética comprovada para a função e assim reverter o preconceituoso pensamento:
" ... e
cavalo tobiano só dá bom por engano".
Os negociantes nordestinos "empurraram" na Minas,lá por l705(Ciclo dos cavalos de Curitiba, antes do predominio das tropas muares), cavalos holandesses malhados, enganando da falta de resistencia com o nome PAMPNA, que , sendo étimo quichua, não passava de nome fantasia, mas "colou" - Mário Barbosa Mattos
ResponderExcluirPerdoem a audácia, mas, no início deste arrazoado, há um erro crasso! Quando H. Cortez colocou em terra Americana seus primeiros Andaluzes, embarcados em Cádiz ou Barrameda, no Sul da Espanha, o citado cavalo bragado, manchado de branco, não poderia ter cruzado...e dustribuído genes em éguas ditas nativas Mustang (Mestenho), simplesmente porque, aqui nas Américas, não havia nenhum cavalo moderno! Foram os cavalos espanhóis os precursores de toda a cavalhada Americana, todos seus descendentes, até ao fim do sec 18! Os Mustangs, os crioulos, o passo fino, e até o mangalarga e o campolina descendem do sangue ibérico, muito embora esteja comprovado q o ancestral do cavalo moderno teve sua origem na América, e era um animal de 3 dedos, pequeno como uma capivara, o dito Eohippus!
ResponderExcluirDerlin Ferreira Antunes Med Veterinário Bagé RS
ExcluirDerlin Ferreira Antunes Med Veterinario Bagé RS 22/09/2018
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