segunda-feira, 7 de abril de 2014

MARAGATO







                   Denominação dada ao revolucionário ou partidário da revolução rio-grandense de 1893, adepto do credo político pregado por Gaspar da Silveira Martins e adversário do partido então dominante, chefiado por Júlio Prates de Castilhos. Revolucionário ou partidário da revolução rio-grandense de 1923, adepto do partido liderado por Joaquim Francisco de Assis Brasil e contrário a Antônio Augusto Borges de Medeiros, governador do Estado.
                     Na província de León, Espanha, existe uma comarca denominada Maragateria, cujos habitantes têm o nome de maragatos, e, que, segundo alguns, é um povo com hábitos de andarilhar de um ponto a outro, com cargueiros, vendendo e comprando, foram os primeiros correios da Espanha e hábeis na arte de selaria e correaria.Seriam oriundos da cidade de Maraghat às margens do Nilo e fizeram parte da Cavalaria de Tarique na conquista Árabe.
                     Aos naturais da cidade de São José, no Estado Oriental do Uruguai, dão neste país o nome de maragatos, talvez porque os seus primeiros habitantes fossem descendentes de maragatos espanhóis. Pelo fato de os rebeldes em suas excursões irem levantando e conduzindo todos os animais que encontravam, tendo apenas bagagens ligeiras, cargueiros, etc. Como os da Maragateria e porque (com exceções) suspendiam com o que encontravam em suas correrias, aplicou-se lhes aquela denominação, que aliás eles retribuíram com outras não menos delicadas aos republicanos, a despeito da correção em geral observada por estes em toda a luta." (Romaguera).
                   "Ainda hoje (l897), que 11 séculos são decorridos, os maragatos constituem um nódulo distinto no meio da população lionesa. São ainda os bérberes antigos: usam a cabeça raspada, com uma mecha de cabelo na parte posterior; falam uma linguagem que não é bem castelhana, a qual apresenta uma pronúncia arrastada, dura e lenta, e são geralmente arredios." (Oliveira Martins, apud Vocabulário Sul-rio-grandense, P.A., Globo, 1964, p. 289).
                  "Trouxera consigo, além do irmão Aparício, um grupo de maragatos do Departamento de S. José, nome por que eram conhecidos os imigrantes de certa região da Espanha, e, que, pelo prestígio do chefe, se estendeu a todos os rebeldes da Revolução Federalista e até, posteriormente, a qualquer adversário da situação castilhista do Rio Grande." (Arthur Ferreira Filho, Revoluções e Caudilhos, 2a ed., Passo Fundo, p. 34).
             "J. F. de Assis Brasil, o velho líder político maragato, lança "A Atitude do Partido Democrático Nacional na Crise da Sucesso Presidencial do Brasil", um trabalho que merece ser lido e meditado" (Pedro Leite Villas-Bôas, Um Quarto de Século de Literatura Rio-Grandense - 1929-1954", in Revista da Academia Rio-Grandense de Letras, n9 I, P.A., 1980, p. 125).
"Velho tropeiro Vicente,
que amas tuas origens...
fibra de velhas raizes,
em solo duro e ingrato.
Teimoso remanescente
duma raça em extinção...
És caudilho maragato
sem armas nem munição,
peleando valentemente
na defesa deste chão!"
(Cardo Bravo, Rebeldia, poema).



RAÍZES BEDUÍNAS PARA O CANTO GAÚCHO
Moisés Silveira de Menezes

Livre, surgiu no deserto
tripartido por amor
à tenda, à lança, ao cavalo.
Nômade, migrou no rumo
que lhe apontava a inquietude
na sina eterna de andar.
Inconforme o sangue bérbere
o faz aportar na Europa
pra fazer história e Pátria
ao comando de Tarique.

Maraghat, margem esquerda
do grande rio solitário
berço dos avoengos
os que de lança e guitarra
traziam desertos no olhar
sob tormentos de cascos.
Os estandartes do Islã
conquistam o Velho Mundo
fazendo casa e quintal
nos altíplanos da Ibéria.

Por quase oitocentos anos
beduínos ensinamentos
modificaram a paisagem,
artes, costumes, crenças.
Surge a Espanha sarracena,
fulguram raios de Allambra, 
lendas, miragens, visões,
lindas moiras encantadas
cantam os cantos dolentes
dos poetas de Sevilha.

No silêncio das montanhas,
fixada a alma errante,
vai dar vazão aos encantos
das velhas canções mouriscas
na plagência das guitarras.
O tempo o vai esculpindo
sem olvidar velhas crenças
e um guerreiro libertário
vai-se forjando “al despacio”
no contraponto dos dias.

Por instinto e disnatia
cruzou as distintas raças
que foi montando a lo largo.
Mais tarde, Mendonza trouxe
pra pampa sul-ameríndia,
da cruza moura-andaluz,
os potros que alaram homens
que honraram a cor do lenço
e amaram belas mulheres
no intermédio das guerras.

Entre Astorga y El Teleno
Leão, província espanhola
se aquerenciaram aos poucos.
Bombachas largas, vistosas,
jalecos, faixas bordadas,
botas altas e sombreros,
chasqueiros por profissão.
Arrieiros vagos, no entanto
migram por campos e mares
rumo ao sul americano.

Uruguay – la pátria nueva
del señor de lo desierto.
Alli, el gaúcho maragato
aparició en San José,
fita roja en el sombrero
con divisas de muy lejos
“por mi pátria”, “por mi amor”,
“Todo por la libertad”
debajo de un cielo azul
con los sueños por delante.

Argentina, pampa larga,
Também recebe “el moruno”,
cavalgando a “la jineta”
um flete, olhos de águia
força de ventos e rios.
La tierra Sul ameríndia
templó aun más su carácter
payador y guitarrero
fuerza y aliento de gigante
corazon y alma de ñandubay.

93, clarinadas
cavalarias em carga
espadas em mãos de ferro
lendárias “divisas rojas”
nas hostes de Gumercindo
invadem a pampa gaúcha
de à cavalo entram na história
viram lendas, causos, mitos,
la gente noble y valiente
rio grandense e maragata.

Nos tempos claros de paz
andejos cruzam os campos
dois idiomas para ‘el gaúcho’
três bandeiras, um só canto.
Habitam cifras, milongas
no bojo das andaluzas
que sonorizam a pampa
como a quebrar o encanto
da moura da Salamanca
que se escondeu no Jarau.
               Na época da revolução, os republicanos legalistas usavam esta apelação como pejorativa, atribuindo-lhes propósitos mercenários. A realidade oferecia alguma base para essa assertiva — o caudilho estrategista brasileiro Gumercindo Saraiva, um dos líderes da revolução, havia entrado no Rio Grande do Sul vindo do Uruguai pela fronteira de Aceguá (Uruguai), no Departamento de Cerro Largo, comandando uma tropa de 400 homens entre os quais estavam uruguaios descendentes de antigos maragatos com seus tradicionais lenços e fitas vermelhas. A família de Gumercindo, embora de origem portuguesa, possuía campos em Cerro Largo.
                   No entanto, dar esse apelido aos revolucionários foi um tiro que saiu pela culatra. A denominação granjeou simpatia. Os próprios rebeldes passaram a se denominar "maragatos", e chegaram a criar um jornal que levava esse nome, em 1896.
                     Aos poucos este termo foi sendo usado para designar todos os revolucionários que usavam como símbolo o lenço vermelho ao pescoço. Os guerrilheiros que lutaram a favor do governo usavam o lenço branco (mais raramente o verde) e usavam às vezes uma farda azul com gorro da mesma cor encimado por uma borla vermelha. Por isso, foram chamados de Pica-paus.

               Muitos historiadores afirmam que a conquista da Ibéria, politicamente foi árabe, mas militarmente foi berbere e isso deve a célebre cavalaria berbere comandada por Tariq Ibn Ziyad:

             " Oh meus guerreiros, para onde vocês poderão fugir? Atrás de vocês é o mar, diante de vós, o inimigo. Vocês deixaram agora só a esperança da vossa coragem e constância. Lembrem-se que neste país vocês são mais infelizes do que o órfão sentado à mesa do senhor avarento. Seu inimigo estão diante de vocês, protegido por um inumerável exército, ele tem homens em abundância, mas vocês, como única ajuda, tem suas próprias espadas e, com elas uma única chance para a vida, a qual devem arrebatar das mãos de vossos inimigos. Se vocês atrasarem para aproveitar o sucesso imediato, a boa sorte irá desaparecer, e seus inimigos, a quem suas presenças encheu de medo, terão coragem. Coloque longe de vocês a desgraça da qual se fugir em sonhos, e atacar este monarca que deixou sua cidade muito bem fortificada. Aqui está uma excelente oportunidade para derrotá-lo, se vocês concordarem em expor-se livremente à morte. Não acreditem que eu desejo incitar vocês a enfrentar perigos que eu me recuse a compartilhar com vocês. Durante o ataque eu mesmo estarei em primeiro plano, onde a chance de vida é sempre menos. " (Tariq Ibn Ziyad em discurso a sua celebre cavalaria berbere depois de desembarcar na Ibéria e queimar os navios).


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