Recebo o maravilhoso livro Tupan-cy-retan -
Face Missioneira
-de autoria do meu amigo Moisés Silveira de
Menezes num período em que me encontro extremamente atarefado, o que não é raro
acontecer comigo, todavia a imagem da capa me chama imediatamente para o
interior do livro. Ao ler a dedicatória me sinto como quem esteve em cima da
história sem a oportunidade de decifrá-la. Há muito de São Pedro do Sul, minha
terra natal e onde Menezes reside, que gostaria de desvendar como agora ele faz
da sua Tupanciretã, mas a vida, a cada dia,
me afasta mais para outros projetos culturais.
Nas primeiras páginas de Tupan-cy-retan há um
poema que me encanta em sua plenitude pelo poder apurado do poeta que retrata
fatos históricos com tanta poesia e ao mesmo tempo com tamanha realidade.
Somente vates com vasto conhecimento histórico e grande sensibilidade poética
podem produzir epopeias sem cair na vala comum do relato. O preciosismo de seus
versos está há muito em seus escritos, porém é imensamente feliz em Os Ventos
de Caiboaté. O livro já vale por este único poema, mas ele vai se agigantando a
cada página. O prólogo é extremamente
esclarecedores registra o que poucos escrevem ao citar
o missioneiro, porque a maioria dos autores se restringe ao segundo ciclo como
se ele fosse tudo. Mas Menezes não, por ser um investigador da cultura, não se
contenta em iniciar seu livro no primeiro ciclo em território americano o que
seria plenamente aceitável. Ele vai a matriz da questão na Península Ibérica e
dá ao leitor amplo entendimento do porquê das
disputas, das alianças e dos tratados mal sucedidos entre Portugal e Espanha ,o
que vem desaguar historicamente no sul da América. Cuidadosamente detalha as
questões hereditárias dos dois tronos e suas intenções não somente com relação
ao território americano, mas principalmente com o europeu, o que vem repercutir
nestas bandas...Por saber que não se pode falar em missioneiro sem destrinchar
os preâmbulos da Companhia de Jesus abre uma janela imensa ao conhecimento do
leitor sobre os interesses reais da igreja católica, da contra reforma e a
intimidade filosófica de Inácio de Loyola, seus companheiros e seguidores... Mas
como dissertar sobre as reduções e seus reduzidos sem entender sobre os silvícolas
antes da chegada dos padres e dos europeus em geral? O que se espera de um
grande pesquisador é que ele permita a compreensão de que os índios não são
apenas índios como chamam os europeus em sua grande invasão na América. E,
neste quesito Menezes aprofunda os estudos nas diversas nações ameríndias, seus
usos e costumes... Ao buscar as origens, expõe as diversas teorias da chegada
do ser humano no continente, partindo do princípio do surgimento da humanidade.
Também não esquece de que a chegada do gado vacum
e cavalar à América dá nova conotação ao habitante do continente forjando o
índio de a cavalo que vem transforma-se no gaúcho em território rio-grandense.
O autor discorre com estudo exaustivo pelos dois ciclos missioneiros, suas
localizações originais, virtudes e deficiências, os bandeirantes, as guerras e
o massacre final. Faz uma exposição científica de dados sobre todo o processo
que origina, mantém e dizima o sonho missioneiro para poder contar com
legitimidade a história de sua terra natal, Tupanciretã Terra da Mãe de Deus.
* Jornalista,
pajador e apresentador
pajador_mendonca@hotmail.com
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