terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

TUPANCIRETÃ-TERRA DA MÃE DE DEUS


            TUPANCIRETÃ-TERRA DA MÃE DE DEUS

               Os primeiros habitantes de Tupanciretã foram índios Tapes/Guaranis que tiveram estreita ligação com Redução de Natividad de la Virgen, que muito embora não se localizando em terras pertencentes ao atual município de Tupanciretã, influenciou habitantes do município pela proximidade, pelo raio de atuação, pois comprovado sobejamente está que uma redução influenciava,liderava,prestava assistência sob os mais variados ângulos e aspectos aos moradores de uma vasta região no seu entorno, como polo irradiador de religiosidade, como centro de trocas e de abastecimento, além de que como Firmino Costa manifestou em entrevista ao autor, muitos habitantes da região de Tupanciretã podem ter sido aldeados, reduzidos em Natividad, porque essa era a prática, a escolha de um lugar que estrategicamente proporcionasse além de proteção e segurança sob os mais diferentes vetores,também favorecesse o amplo aldeamento de silvícolas, posto que a ideia base era a conversão completa.
      Posto isso mister se faz desenvolver a história de Nativiad de La Virgen para que possamos iniciar a compreender a face missioneira da Terra da Mãe de Deus.
        Segundo Firmino Costa após o completo destroçamento de nada menos que dezenove reduções no Guairá, sobraram apenas Loreto e Santo Inácio Mini. Nessas duas os jesuítas Antonio Ruiz Montoya e Francisco Vasquez Trujillo reuniram os índios remanescentes, cerca de 8.000 a 12.000 e, temendo um iminente ataque, resolveram abandonar a região e seguir em direção ao Sul. Aproximadamente 5.000 índios, entre homens, mulheres, velhos e crianças, os acompanharam em uma das mais fantásticas retiradas da nossa história.
          Entre sete a nove padres, incluindo Pedro Alvarez e Paulo de Benavides, sob a orientação do Padre Montoya, em torno de  700 jangadas e outras embarcações similares, carregando o estritamente necessário, navegaram o correntoso Rio Paraná como um verdadeiro exército de retirantes na  busca de um destino a ser encontrado e construído num mundo novo e desconhecido.
          Foram muitos os obstáculos, inclusive foi necessário vencer a resistência dos habitantes das cidades paraguaias de Vila Rica e Cuidad Real, que se interpuseram no caminho na expectativa de barrar-lhes a fuga. Ultrapassaram corredeiras e cascatas. Ao defrontarem-se com as Sete Quedas, hoje inundadas pelo lago de Itaipu, abandonaram as embarcações fluviais  e seguiram a pé, sertão adentro, abrindo picadas,construindo trihas, transpondo vales e montes, arroios, pântanos e outra vicissitudes da selva tais como felinos, cobras e não raro  tribos selvagens antagônicas.
          Sofreram toda sorte de agruras e em consequencia disso e da alimentação deficitária, uma forte epidemia dizimou centenas deles, principalmente velhos, mulheres e crianças.
          Conforme Firmino Costa depois de muitos sacrifícios, de árdua e constante marcha, fugindo ao perigo da perseguição dos paulistas atravessaram o Iguaçú e chegaram até o sul do Paraguai e Misiones na Argentina e de lá, mais precisamente da redução do Japejú, teriam vindo os padres para iniciar o seu trabalho no “Tape”, atual território rio-grandense.
           Para Rego Monteiro, Natividade estava localizada nas vertentes do Ivaí, nas fraldas da Serra de São Martinho. Segundo Veloso ficava à margem direita do Araricá "o verdadeiro Jacuí", afirmação da qual discorda Monteiro, pois até princípios de 1800, Araricá, ­era o nome do Vacacaí-mirim afluente da margem direita do Jacuí, que nasce em São José do Pinhal.


                         O Cacique Batu
    O vocábulo Batu quer dizer chefe de quadrilha ou bando. Com essa grafia encontramos no Rio Grande do Sul apenas o cacique minuano Batu e o lugarejo do Batu em Tupanciretã.
     Existe ainda a forma Batú referente a um jogo de pelota praticado pelos índios Tainos, indígenas pré-colombianos que habitavan as Bahamas, Grandes Antilhas, e Pequenas Antilhas do Norte, no Caribe. Acredita-se que eram ligados aos Aruaques da América do Sul. Falavam um idioma da família linguística Maipureana, que abrange o norte da América do Sul e todo o Caribe.
     A localidade Batu,no município de Tupanciretã, possui a mesma grafia do nome do Cacique Minuano Batu, donde deduzimos que um deriva do outro. Pela antiguidade do nome do lugar, homenageado em 1930 com uma estação férrea (o nome é anterior ao trem) e pela época em que o cacique Batu viveu e tendo-se comprovado suas andanças pela região é possível afirmar que o nome do lugar deriva do cacique Batu que ali viveu por algum tempo, em época não bem  determinada.
     Gomes e Pereira citam o Cacique Batu entre os primeiros moradores de Cruz Alta,ressaltando-se que a época o lugar Batu,situado no Posto Jesuíta de São Solano,pertencia a Cruz Alta,hoje no entanto está compreendido no municipio de Tupanciretã:
“...Antônio de Souza Fagundes, José Bernardo Fagundes, Zeferino dos Santos, no Cadeado, hoje Capela. José Caetano de Carvalho e Souza na Guarda da Conceição. Firmino da Silva Moreira, próximo ao povoado. Manoel Gonçalves Terra, no atual Rincão de Nossa Senhora. Antônio Moreira da Silva, para o lado do lvaí. Joaquim Júlio da Costa Prado, entre os Arroios Corticeira e Palmeira. Domingos AIves dos Santos, na histórica estância da Conceição. Cacique Batú, na sesmaria São Francisco Solano, dividindo ao Norte com a Conceição. João Nunes da Silva, na Estância Tupanciretã, dos Jesuítas, com o Posto de São Tomé. Manoel Antônio Severo, na Guarda de São Pedro. Jacinto Pereira Henriques, sobre o Arroio Caneleira. Matheus e Agostinho Soares da Silva, na sesmaria Céu Azul, à direita do lvaí. Antônio Rodrigues Padilha, próximo à Guarda de São Pedro. João Vieira de Alvarenga, onde localizou-se o Povo Novo, de cuja área foi êle o doador. Ana Cândida Vieira, à margem direita do lvaí, em 1817....”

Saldanha descreve o Cacique Batu ao encontrá-lo, em 1790, às margens do rio Cacequi:
“... O Batu é alto, velho carancudo, e  feio.”
Trancreve ainda Saldanha uma fala de aspecto religioso do Cacique Batu:
“...Quem poderá haver tão falto de razão, que do ente supremo negue a existência, se o mesmo Batu da gema dos minuanos, falto de discursos, e combinações responde apontando para o céu... só quem ali existe. Senhor é das vidas, e humanas mortes...”

  Esse trecho comprova a convivência do cacique na região das missões onde teve contatos com o catolicismo e vem ao encontro de outras citações inclusas em outros momentos desse trabalho referente às visitas frequentes dos índios pâmpidas, integrantes das mais variadas tribos, em busca de negócios, em tentativas de aderir à catequese e ao reducionismo, além de algumas já faladas incursões de roubo de gado, conforme Wilde:

“...Más tarde relata un informe que un grupo de nicolasistas fugados de su pueblo se dedicaban al saqueo de las estancias de la zona comandados por un líder llamado Chumacera y que proclamaban como jefe al Cacique Batu de los minuanes a cuya toldería habían enviado sus mujeres y bienes .”

     Aqui temos um fragmento que indica ser próximo das missões a Toldaria de Batu, caso contrário não seria uma operação rápida e fácil, para lá, serem levadas mulheres, crianças e bens. Deduzimos também que era Batu muito conhecido na região, pois fora aclamado líder inclusive de índios guaranis, para essa missão de saque. Wilde não situa exatamente o ano desse fato, mas sua obra analisa o período entre 1609-1768. Pode-se deduzir que ele tenha aparecido junto com o Cacique Moreyra que andava por ali ao tempo do Padre Sepp, pois foi uma época de muitos relatos envolvendo a presença de Minuanos, Guenoas, Yaros e outros ditos infiéis nas reduções de São Miguel, São Nicolau e São João.
     Em razão do Cacique Moreyra liderar 200 minuanos como retaguarda do exercito português na segunda campanha guaranítica e sabendo-se que um cacique tinha consigo por volta de 50 guerreiros,é provável a presença de outros caciques nesse grupo e entre esses o velho Batu que já era conhecidos nas missões e por ali havia liderado guaranis renegados conforme Wilde,já citado anteriormente.Certo que participaram na guerra e que voltaram junto com Gomes Freire ebem provável que abandoram as missões quando o general voltou para Rio Pardo e exemplo também de muitos guaranis,pois não gostavam dos espanhóis.
      Ferreira Filho ao comentar sobre os índios do Rio Grande do Sul assim se expressa:

   “No inicio do povoamento lusitano constatou-se a presença de índios minuanos em Mostardas, na costa do mar, e mais tarde no Planalto Médio, onde deixou fama o Cacique Batu.”
     Temos aqui uma consistente e definitiva prova de que Batu viveu em Tupanciretã onde fez fama ao ponto de ter unido para sempre seu nome a uma das mais tradicionais localidades do município.
   O fato do Cacique Batu haver sido um dos antigos moradores de Tupanciretã é muito significativo, pois deixou seu nome ligado a uma localidade que já sendo importante como posto de estância missioneira, passa a ter ainda mais relevo por ter sido lugar da Toldaria do  célebre cacique  e finalmente confere um traço minuano, um traço pâmpida à face missioneira da Terra da Mãe de Deus.

                     Abacatu

          Segundo Firmino Costa a localidade do Abacatu teve como primitiva designação jesuítica,São Pedro de Tujá, nome secular, antiga estância jesuítica pertencente ao povo de São Lourenço. Abacatú era um índio proveniente  de São Borja, integrante do grupo que foi transladado por ordem de Gomes Freire de Andrada, em 1760, para a fronteira de Rio Pardo afim de serem destinados a futuras aldeias.
É provável que tenha morado antes da transferência para Gravataí na localidade que hoje leva seu nome (divisa de Tupanciretã com Júlio de Castilhos) e que na passagem de Gomes Freire o tenha seguido juntamente com sua família para tornar-se um dos povoadores de Gravataí,conforme Francisco Salles citado por Costa:
       “Abacatú é o chefe de uma das famílias povoadoras da Aldeia dos Anjos (Gravataí) e aí, em 1768, batizou seu filho, cujo registro consta do 1° Livro de Batismo, fls. 17 v:" Aos nove de março de mil setecentos e sessenta e oito, batizei a Miguel, filho de Miguel Abacatú e de Martinha Tirú. Foram padrinhos: Francisco Xavier e Joana Mondeaí.   Frei Rafael da Purificação"
     Mais tarde o governo obriga os povoadores de trocar de nomes indígenas para portugueses confundindos com o nome das famílias já existente no Continente, como Silveira, Gomes, Carneiro da Fontoura, etc..
     Há no Arquivvo Histórico e Geografico do Rio Grande do Sul um tombo em que consta todas as famílias da Aldeia dos Anjos com seus nomes e os adotados. Nota minha: Abacatú quer dizer em guarani: homem são, sadio, perfeito.Na troca de nomes ficou Miguel e Martinha,tornou-se Isabel.”    
           Essa transmigração indígena das missões para os territórios portugueses começou em 1757 quando da retirada de Gomes Freire para Rio Pardo e seguiu acontecendo em pequenos grupos conforme consta no Diário Sá de Faria transcrito por Golin:
     “…o agrado e trato que em nós achavam, foram causa de nos acompanharem para o Rio Pardo um grande núnero de famílias, que passaram de 3.000 almas. Como estas faziam um grande vulto na marcha, receou o nosso general [que] lhe fizesse o dos castelhanos carga de que os induzira, tirando ao rei católico tão grande número de \vassalos. Usou da política de lhe escrever do caminho, avisando-o, e ainda aconselhando-o [que] evitasse esta transmigração dos índios, pondo guardas nos passos principais que os embaraçassem, pois ele não queria o ditos índios, de nenhuma sorte.
O que o mesmo general castelhano agradeceu. Mandou por as guardas, principalmente no Passo do Monte Grande, e em outros. Mas sem fruto, porque, pela outra parte, a tropa lhe dava todo o auxílio, para passarem segur os, por entenderem que o nosso general assim o queria, e ouvia, em enfado, as notícias de irem passando sem embaraço, o que algumas vezes se conseguiu, com manha, por entre as mesmas guardas; e, outras, penetrando os matos, para passarem sem serem vistos...

 Finalmente, chegou o nosso exército e índios ao Rio Pardo, em 10 de junho de 1757…
Sabendo o mesmo general espanhol a quantidade de índios que se haviam transportado ao nosso domínio, escreveu repetidas cartas ao nosso general para que os restituísse. Sempre o mesmo senhor se mostrou desinteressado, nesta parte, e empenhado em que voltassem para as suas aldeias. Porém, isto porque sabia muito bem que nada os faria mover. E, nesta certeza, respondeu por várias vezes que mandasse oficiais seus a reduzi-los. Até permitiu que viessem padres jesuítas a esta mesma diligência. Porém, só colheram por fruto das grandes que fizeram bastantes desatenções dos mesmos índios, até que, ultimamente, para de toda a sorte mostrar o nosso general que os não queria, propôs ao senhor general espanhol se convinha ele que mandasse fazer fogo pelas tropas aos índios que, fugados daquelas aldeias, quisessem entrar no nosso país (e que verdadeirarnente estavam entrando, em pequenas partidas)...”
Não conseguimos apurar a etnia de Abacatu, no entanto resolvemos colocá-lo junto com os Minuanos em razão de ter associado seu nome a uma localidade assim como o Cacique Batu da tribo minuana.À época da destruição e posterior migraçao do Guairá existia por lá um cacique muito influente chamado Abacaty e considerando que os caciques costumavam repetir nomes de outros ancestrais de renome, esse nome Abacatu pode vir daquele e aí por certo seria ele da etnia Guarani/Tape.No final da Primeira Campanha da Guerra Guaranítica houve um armistício de paz entre Gomes Freire os Guaranis e um dos caciques signatários chamava-se Acatu,nome que guarda bastante similitude com o de Abacatu e também aqui devemos considerer que entre os indígenas era comum a troca de nome,não raras vezes pelo nome de um líder espanhol ou português,exemplo como vimos do próprio Abacatu que ao chegar na Aldeias dos Anjos batizou-se com nome protuguês.


                                      TUPAN-CY-RETAN-A Lenda

             O vocábulo lenda vem do latim e significa legenda, ou seja, aquilo que deve ser lido. Para Gean Gennep lenda é a narração localizada, individualizada e objeto de crença, que tenha como traço comum e constante a religiosidade. A lenda tem localização no tempo e no espaço, conta um fato geralmente com conotação religiosa, pode inclusive possuir uma origem histórica, qual seja: um fato ou acontecimento ou personalidade histórico analisado pela visão popular, depois de contado e recontado muitas vezes poderá transformar-se em lenda, como exemplo podemos citar a Lenda de São Sepé baseada na vida do Cacique Sepé Tiaraju.
          Segundo Moacir Flores, "lenda é a narração de fatos enriquecidos com mitos, transformando a história em acontecimentos maravilhosos e os homens, em santos. A lenda se diferencia do mito por sua precisão geográfica e temporal, apresentando heróis que realmente existiram, mas que a imaginação popular recriou de geração em geração em resposta a seus anseios.”
         A interação social modifica normalmente pelo acréscimo de elementos a lenda original, de tal maneira que surge a lenda transformada e por vezes transcendendo à própria história.
De acordo com Paula Simon as lendas do Rio Grande do Sul atendem a seguinte classificação:
          a)Geográficas – São as que tem relação com à criação de determinados lugares, como:
 Osório (Conceição do Arroio), Soledade, Tupanciretã, Cruz Alta,Cacimbinhas (Pinhei-ro Machado), Passo da Areia ou Obirici, Lagoa Parobé (Cavalo Encantado), Lagoa do Caverá (Cervo Encantado).
         b)Missioneiras – Aquelas que estão relacionadas com a região das Missões:
São Sepé (Lunar de Sepé), M’bororé, M’boiguaçu (Cobra Grande), Rio das Lágrimas;
         c)De escravos – São lendas cuja origem remete ao tempo da escravatura no Brasil, relacionadas à negritude:
Santa Josefa, Torres Malditas (Igreja das Dores), Negrinho Antão (Sanga Funda), Cambaí (Iiio do Negrinho, São Gabriel) ;
         d) campeiras – As que tem relaçao com as lides nas fazendas do Rio Grande do Sul: Negrinho do Pastoreio;
        e) etiológicas – Lendas que explicam a origem e/ou o nome de algum lugar ou    o      porquê de alguma coisa:Criação do mundo, do homem, da mulher e do negro, as relacionadas à fuga da Sagrada Família, a da Festa do Céu, a do umbu, a do tico-tico, a do linguado e a da savelha, por exemplo.
            Tupanciretã, que tem sua história intimamente ligada às missões jesuíticas da Província Jesuítica do Paraguai. Por aqui transitaram os padres Antonio Sepp, Cristóvan de Mendoza, Romero, Dias Tano e tantos outros. Imagens de santos eram esculpidas e cruzavam trilhas e estradas primitivas para depois pairarem soberanas nos altares improvisados das rústicas capelas das estâncias missioneiras. Tem profundas raízes na vida missionária de índios e Inacianos e, assim sendo não poderia escapar as decorrências dessa contingência.
             Por suas estradas caciques como Sepé,Batu e outros de igual renome cruzaram no rastro da gadaria e cavalgaram para fazer história.Pelos seus campos cruzaram soberanos e prepotentes generais ibéricos com suas hordas ignorantes para destruir uma das mais lindas e ingênuas civilizações da América.  O seu nome, Tupan-ci-retan, tem não apenas uma origem lendária, mas sim, encerra uma das mais belas e singelas lendas do Rio Grande.
       Segundo Manoelito de Ornellas:
       “A fazenda jesuítica apenas assinalada pela capelinha tosca, já existia no alto de um coxilhão deserto (campina extensa). E as árvores do mato crioulo, à tarde, projetavam-lhe sombra larga das suas ramarias. Ao lado, sob o amparo de uma cruz modesta, mal resistia a fúria das tempestades, um rancho pobre, coberto de palha, que tinha a finalidade amiga de acolher os poucos viandantes (viajantes) que por ali passavam. O local nada mais era do que um Posto de São João. Dentro da capelinha, tão pobre como esquecida, apenas uma imagem tosca enfeitava a tábua erguida como altar. Era uma imagem da Madona dos Céus, da Senhora dos Crentes.
         Um dia, em que pelos caminhos maldelineados da serra, passavam um missionário e alguns poucos índios, uma tempestade os colheu nas proximidades do Planalto da Coxilha Grande. A noite chegava, e com ela o pânico e o terror. Quando a desorientação desesperava o padre e os poucos índios companheiros, um relâmpago lhes mostrou na fímbria do horizonte, em plena noite, um vulto mal definido. A silhueta que os relâmpagos mostravam, perto, era a imagem da Madona exposta ao furor da tempestade que arrebatara da capela pequenina a cobertura frágil.
O sacerdote, cheio de alegria cristã, exclamou: “Tupan-ci”. E os índios aterrorizados, repetiram: “Tupan-ci-retan”, que na língua indígena quer dizer: TUPAN = DEUS, CY= MÃ, RETAN = TERRA, ou seja, “TERRA DA MÃE DE DEUS.”

                                O Nome Indígena

          Manoelito de Ornellas enviou uma carta a Souza Doca consultando sobre a lenda de Tupanciretã e algumas outras versões sobre as origens do nome. A resposta a essa carta foi transcrita ao final do livro Tupan-Cy-Retan de Manoelito e nós vamos republicá-la na ìntegra, pela importância e em respeito aos dois historiadores:
          “Respondo á pergunta que me encaminhaste, de Manoelito de Ornellas, sobre a origem do nome Tupanceretan, dada a sua linda terra natal em nosso planalto, hoje elevada a município”.
          O nome vem do século XVIII.
          No ultimo quartel deste século ali já havia uma estância jesuítica com aquela denominação.
          E’ possível que o rancho mencionado pelo consulente seja uma das casas da estância talvez a principal, que ali ficou e, sobre a ação do tempo,virou tapera e finalmente desapareceu deixando apenas a reminiscência de que fala Manoelito.
Era uma espécie de Oásis no magestoso deserto verde de nosso planalto, de horizontes dilatados e onde o dia se extingue numa agonia lenta, morrendo aos poucos, como um Deus romântico, de saudade cheio entre os desmaios variegados do poente.
Creio que o nome não foi dado pelos aborígines e sim pelos jesuítas, ao estabelecerem ali a estância que denominaram, Tupanceretan, Estância de Nossa Senhora que me parece a melhor tradução.
Literalmente seria Estância da Mãe de Deus, mas tendo sido o nome dado pelos jesuítas estes, como todos os católicos, dizem de preferência Nossa Senhora em vez de Mãe de Deus, julgo melhor, isto é, mais expressiva aquela tradução.
Etã, radical de Teta, que por eufonia às vezes muda o t em r, significa a terra pátria, o país e também cidade, povo, aldeia, lugar habitado e no caso, por extensão estância.
Na interpretação ou tradução dos topônimos indígenas há três elementos essências que devem ser sempre considerados: a língua com suas significações particulares e gerais, dada a sua pobreza, a geografia física, isto é, o acidente geográfico em sua forma exterior a antropogeografia.
Em Tupanceretan não teve influência o segundo elemento citado. O primeiro, entretanto, entra como fator importante.
Já vimos que o etã é o radical de teta, as transformações porque este passa e suas significações e como, por extensão, se pode traduzi-lo por estância, fazenda, patrimônio, etc., de Nossa Senhora.
Atendo-nos ao terceiro elemento citado, isto é, históricamente não se pode aceitar que o nome tenha a origem suposta por Manoelito, é de notar-se que ele, criteriosamente, faz uma simples suposição porque antes de 1801 já a denominação existia.
Além disso, a tradução, Terra da Mãe de Deus, a que eu também já dei curso, tem uma extensão vaga, ilimitada, e não me aparece tenha aplicação no caso, por se tratar de uma região relativamente pequena, uma simples estância.
Menos aceitável é a lenda que atribui a origem do nome em apreço a esta frase pronunciada por um companheiro do francês Beauvalet, ao se despedir deste que ali ficou, naquela localidade que escolhera para sua residência: Tu y passerás lê temps e que teria sido recolhida por um peão que os acompanhava e que por ignorar a língua francesa tomou a palavra como sendo o nome do lugar e a repetia foneticamente: tupanceretan, como se lhe afigurava pronunciada.
E’ um simples invencionice isso.
O nome já existia desde o último  quartel do século XVIII e Beauvalet só podia ter ido para o Rio Grande do Sul nos meados do século seguinte, isto é, em 1848 ou depois, visto que neste ano fora posto em liberdade na França da prisão em que  se achava por haver morto em duelo o jornalista Dujarier.
Segundo se vê nas concessões de sesmarias de 1791 a Ana Fausta Gertrudes de Magalhões, havia no atual município de Cachoeira, um rincão denominado Tupanceretan, cuja tradução livre deve ser Rincão de Nossa Senhora. O nome como se vê vem de longe na toponímia de nossa terra”
          Na carta, Souza Doca faz uma referência a uma idéia de Manoelito De Ornellas sobre a origem do nome. Era hipótese daquele escritor que o nome, Tupanciretan, Terra da Mãe de Deus, poderia derivar do fato de ser o lugar um posto acolhedor e hospitaleiro e daí a simpática denominação. Sousa Doca refuta essa suposição de Ornellas e também a certa lenda que conta de um francês que para o lugar teria vindo cujo trecho repetimos aqui na integra:
Menos aceitável é a lenda que atribui a origem do nome em apreço a esta frase pronunciada por um companheiro do francês Beauvalet, ao se despedir deste que ali ficou, naquela localidade que escolhera para sua residência: Tu y passerás lê temps e que teria sido recolhida por um peão que os acompanhava e que por ignorar a língua francesa tomou a palavra como sendo o nome do lugar e a repetia foneticamente: tupanceretan, como se lhe afigurava pronunciada.E’ um simples invencionice isso.”
Essa lenda que tanto Souza Doca quanto Manoelito de Ornellas chamam de invencionice, não tem ligação, nem alusão alguma a lenda missioneira que há muitos nãos existe e que se perpetua pela voz do povo que a repete com afeto e nela credita como origem do nome,lenda essa, já citada anteriormente nessa obra, em uma versão do próprio Ornellas.
         Wolfang Harnisch em viagem pelo Rio Grande do Sul fez interessante relato  sobre Tupanciretã :
         “Mas as árvores crescem também neste solo, pois suas raízes vão para o fundo. Na região do atual município de Tupanciretã enontravam-se antigamente os imensos pomares e plantações de àrvores frutíferas da Redução de São João Batista.
      Tupanciretã-que nome!
Como é bela sua origem: a formação do vocábulo foi inspirada pelo ambiente cheio de flores.
Numa monografia do município, Manoelito de Ornellas informa que parte do nome se prende à memória do grande apóstolo do Brasil, o venerável Anchieta. Entre os versos que o grande jesuíta e taumaturgo escreveu, e que “foram sendo repetidos e ensinados por todas as tribos”,encontravam-se alguns,dos quais D.Pedro II tirou cópia em Roma. Entre tantos havia os seguintes:


O’, Virgen Maria,
Tupan-ci-etê
Aba pé ara porá
Oicó ende iabê,

Cuja tradução significaria:
O’,Virgen Maria
Mãe de Deus verdadeiro
Os homens desse mundo
Estão muito bem convosco!

Nesse verso encontramos as primeiras três sílabas do nome. Tupan significa Deus. Ci é igual a Mãe.As últimas duas sílabas Retan significam Terra.
O nome de Tupanciretã quer dizer Terra da Mãe de Deus.
           No último quarto do século XVIII existia, conforme sa­bemos por documentos, uma estância jesuítica desse nome· no lugar. A redução de Sao-Joao-Batista tinha muitas fazendas para criação de gado, entre elas São-Joao-Mirim, destinada a pecuária e Tupanciretã a fruticultura.
O padre Antonio Sepp cultivava com imenso carinho fi­lial o nome da Virgem Santíssima. Logo depois de sua che­gada as Missões, distribuiu entre os índios centenas de imagens de "Nossa Senhora Negra de Altoettingen", (cópia da imagem da Mãe de Deus muito venerada em sua pátria). Sabemos também que o fundador de São-João-Batista metrifi­cava perfeitamente na língua guarani, como dela se utilizava na vida profana, e como ainda foi este mesmo padre que plan­tou as arvores frutíferas em Tupanciretã. E fácil, portanto, de­duzir-se que foi ele quem formou este nome tão poético e sentimental. Mas há ainda outro motivo mais convincente que nos permite admitir que foi o citado sacerdote a autor do nome. Certa vez ele o chamou seu "Vergel da Virgem Maria", como tantas vezes o vira no Tirol, e muito em uso na Alemanha do Sul. A citação quer indicar um pomar em flor que, na sua inflorescência branca e rósea, representa bem o símbolo do amor a Mãe· de Deus.
Os pessegueiros e damascos em flor traziam a lembrança do padre Sepp os pomares de sua terra tirolesa. Podemos ir mais longe ainda para afirmar que o nome de Tupanciretã se originou do desejo de encontrar um termo adequado para a palavra Marlen-gärtchen (Vergel de Nossa Senhora), tão ve­nerada e amada na pátria do religioso.”
                      Face Missioneira
          Na caminhada que empreendemos no propósito de desvendar, de apresentar, de descobrir a face missioneira de Tupanciretã se não está chegando, ao seu final, se encontra em um ponto da jornada, da pesquisa que permite formular um esboço bem claro, um desenho bem delineado dessa face. Uma face que a primeira vista pode estar diluída em um sem fim de acontecimentos que fazem parte, que construíram um processo histórico de quase duzentos anos. Em um segundo momento, aguçando o olhar podemos ver que a face não está diluída, mas sim,encontra-se impregnada desse processo histórico e também dele se impregnou.Faz parte,integra e também é fruto desse processo fantástico e único na história do Brasil,a aventura política, religiosa,social,cultural e militar da Província Jesuítica do Paraguay.A face do padre jesuíta que segundo Antonio Sepp citado por Oliveira:
        “(...) o Padre precisa ser tudo a todos! Precisa ser: cozinheiro, dispenseiro, comprador e gastador, enfermeiro, médico, arquiteto, jardineiro, tecelão, ferreiro, pintor, moleiro, pedreiro,
escrivão, carpinteiro, louceiro, oleiro e tudo quanto pode haver ainda de funções numa república bem organizada, numa comunidade, cidade ou num Collegium Societas, ou num convento da Santa Ordem.”
         A face missioneira de Tupanciretã começou a ser modelada no início do processo reducional rio-grandense após a queda e conseqüente migração do Guairá. De lá vieram guaranis remanescentes liderados pelos padres da Companhia de Jesus em busca de outro lugar para aldeamento, para a pacienciosa catequização dos indígenas, na constante busca, no eterno vaguear a procura da Terra Sem Males, espécie de nirvana guarani que vinha tão bem, ao encontro do Paraíso ou do Éden da Bíblia Sagrada.
     A face missioneira da nossa terra tem traços da coragem de Roque Gonzáles incursionado pelo desconhecido, remando solitário da foz do Ibicuí até as proximidades de São Martinho da Serra fundando as bases das primeiras reduções do nosso estado. Tem a persistência, a visão empreendedora de Ruiz de Montoya liderando os padres Romero, Trujillo, Alvarez e outros, singrando rios perigosos, descendo pelo intrincado das serras, pelo emaranhado das florestas, em uma delicada retirada com os sobreviventes do seu povo, para afastá-los da sanha predatória dos bandeirantes e dar forma ao sonho do Tape. Essa face é composta de muitas faces, de muitos traços. É uma face de desenho cristalino, forte, mas bastante complexa nas suas variantes, nas suas singularidades.
     Nesse primeiro momento, primitivos habitantes da região de Tupanciretã são buscados no seu habitat natural, convencidos por padres obstinados,misto de santos e guerreiros.São agrupados em torno da Redução da Nuestra Señora de La Natividad de La Virgen e ajoelharam-se ante a Santa Cruz e o Evangelho do Senhor. Provavelmente aqui nesse tempo o primeiro encontro com a Mãe de Deus.
    Logo em seguida ganha forma o traço pecuarista dessa face, através de um tropeiro de batina, um pioneiro no ramo, o primeiro condutor de gado a cruzar nosso campos conduzindo um rebanho bovino pra distribuir cerca de uma centena a cada um dos povoados missioneiros. Cristóvão de Mendoza cruza os campos da Mãe de Deus com sua tropa e dá início, sem o saber, a uma profissão, um modo de vida, um comportamento, um jeito de ser. Esse conjunto, esses modus vivendi, inserido, forjado nas variáveis do tempo e das circunstâncias vai criar um tipo social singular que irá caracterizar e representar muito bem o nosso estado.
    Esse traço se completa com a chegada do cavalo e com ele, o encurtamento das distâncias, o movimento das linhas de fronteira, institui-se o que Mariante denominou “fronteira do vai e vem”, uma linha por vezes imaginária que ganha corpo e forma à patas de cavalo e ponta de lança. O gaúcho rio-grandense começa a ser gestado a partir do momento que os charruas e minuanos aprenderam a domar o cavalo e criar com ele uma relação harmoniosa. Esse componente pâmpida, tropeiro, ginete, guerreiro, homem sem fronteira e sem lei, senhor dos campos abertos, um homem gestado pelo que se pode encontrar no espaço bio/sócio/cultural compreendido entre as figuras míticas de Cristóvão de Mendoza e o Cacique Batu. Essa a face gaúcha, campeira, missioneira, de Tupanciretã.

    Existe um traço nessa face missioneira que traz a dor do massacre guarani gestado pelos conchavos políticos da Ibéria. Dois exércitos europeus armados com o que há de mais moderno na arte da guerra atocaiam Sepé no Arroio da Bica, morre um chefe, um líder e nasce um mito. Três dias depois dão forma ao maior genocídio da história sul-americana. O número ninguém sabe com certeza, mas de qualquer forma é um número que assusta que fere de morte a dignidade humana. São perto de 1800 mortos sob o comando de Nicolau Nhenguirú, armados de arco e flecha, algumas espingardas artesanais e a fé em São Miguel. Nesse momento a face missioneira de Tupanciretã é de lamento, de dor, mas também é de obstinada resistência pela defesa da terra, a terra sem males, e é nas margens do Arroio Chuni, a última, a derradeira tentativa de derrotar os exércitos de Andoanegui e Gomes Freire, armados com as mesmas armas arcaicas e a imorredoura fé em São Miguel e na Virgem do Tirol.
      Quase 50 anos depois, esse traço se recompõe em parte, pela campanha fulminante de Maneco Pedroso, Borges do Canto e Gabriel Almeida que conquistam o território das missões e dão forma definitiva ao mapa do Brasil, no sul da América. O Passo do Arroio Chuni mais uma vez é lugar definitivo, última trentativa de resistência espanhola, como afirma Larguia:
      “Alii, en el paso del Arroyo Chuvirei se les ordena preparar for­tificaciones de defensa, obra que sedan dirigida por el maestro de letras de San Iv\.iguel Arcangel, don Manuel de Lazcano.
Recordar que en ese mismo paso, durante la guerra guaraniti­ca, el lOde lv\.ayo de 1756 los guaranies "inobedientes" habian hecho la ultima resistencia al avance del ejercito binacional. El co­mentario de los oficiales del ejercito en esa ocasian fue que el si­tio era tan estrategico para la defensa, que si en vez de los inex­pertos guaranies, el paso hubiera estado ocupado por 100 sold a­dos europeos veteranos, se hubiera logrado impedir el paso de los 2.500 hombres del ejercito binacional.
         Quedaron en San Miguel Arcangel el Cte. Rodrigo y don ,Leandro Herrera, con algunos de los milicianos españoles y pocos guaranies. Los 200 efectivos guaranies dirigidos por Lazcano -acamparon en el paso de Chuvirei y comenzaron el acopio de ma­teriales para la construcción de la trinchera, distante este sitio, ,unos 10 kIn de San Miguel hacia el Este. Estaban en los prepara­; rivos de la obra, cuando llegaron al campamento los montoneros  portugueses acompañados por los guaranies sublevados de la -guardia de San Martin. Nuevamente los mestizos hicieron su tra­bajo demagógico y consiguieron fácilmente que se sublevaran itambien los 200 índios de las milicias de San Miguel.”
Tendo desafiado os leitores a construir cada um sua face misioneira para Tupanciretã, tenho por obrigação que desenhar a face que encontrei nesse emaranhado de libros, fotos, documentos e conversações. Existem muitos traços, entretanto, cabe ressaltar um e teremos uma face característica e representativa dessa terra de paisagens lindas e de nome mais lindo ainda. Há combates,embustes,malogros,incursões de cavalaria,lides agropastoris e muito sangue inocente derramado pela exploração do homem pelo homem,mas também há o perfume das flores,dos pessegueiros, campos verdes, céu azul , a mão laboriosa  e o gênio criativo do padre Sepp e principalmente a bondade e a generosidade na Nossa Senhora de Alt-Oettingen,a Virgem Negra do Tirol cuja imagem estava entre as mais conhecidas de todo a Província Jesuítica do Paraguai,conforme afirma Oliveira:
“Na Província Jesuítica do Paraguai, as esculturas mais famosas foram a de Nossa Senhora de Alt-Oettingen e a de Santo Inácio de Loyola, o criador da Companhia de Jesus... A imagem de Nossa Senhora de Alt-Oettingen, que Sepp havia adquirido antes de sua partida da Alemanha, tinha a particularidade de ser negra. Aproveitando-se da similaridade, estabeleceu contato com os escravos que viajaram no seu barco, que, de imediato, se identificaram com a santa (MONTOYA, 1985). Acreditamos que o sucesso dessa imagem se deveu a três fatores principais. Em primeiro lugar, ele pode ser creditado ao grande número de cópias que Sepp produziu antes mesmo de sua chegada à América. Essa “clonagem” da Virgem continuou na América logo após a sua chegada. Em segundo lugar, porque havia carência de imagens que pudessem disputar a preferência dos indígenas. No século XVII, os barcos não chegavam com freqüência nem com regularidade ao porto de Buenos Aires, o que fazia com que as imagens fossem raras. Finalmente, essa popularização se deveu, certamente, à divulgação de seus milagres, que se tornaramconhecidos em toda a região do Rio da Prata, como por exemplo,quando ela acabou com uma praga de gafanhotos que havia atacado as plantações de trigo, nos últimos seis anos do século XVII.”
      Essa imagem que Sepp trouxe do Tirol e espalhou inúmeras pelas capelas dos postos das reduções deve ser a que, segundo a lenda apareceu para os índios em meio ao temporal, oferecendo abrigo na capelinha singela no topo da coxilha.

 A partir daí o gênio de Antonio Sepp formou o nome Tupan-cy-retan e uniu para sempre a Kaltern-Caldaro do sul do Brasil à sua amada Tupanciretã do Tirol. A foto do livro “P. Antônio Sepp-O Gênio das Reduções Guaranis” de Arlindo Rabuske ilustra muito bem isso e foi determinante para que me decidisse sobre qual o mais importante traço da face missioneira de Tupanciretã, a Kaltern-Caldaro do Padre Antonio Sepp, o lugar para onde trouxe as flores e os pomares da sua terra natal.
    O lugar onde Sepp, pacientemente esperou uma oportunidade única para batizar de tal forma que essa nova pátria, esse lugar que o encantara, para sempre lembrasse seus Vergéis de Nossa Senhora no Tirol austríaco, hoje pertencente ao território da Itália, mas ainda povoada em grande parte por descendentes de alemães.
      Uma lenda sempre tem algo de verdadeiro e por certo os índios naquela noite de tempestade, e eram frequentes os temporais, abrigaram-se em uma das tantas capelas existentes na região. Provavelmente sentindo-se p-rotegidos e aquecidos devotos que eram da Nossa Senhora de Alt-Oettingen, a Virgem Negra do Tirol, viram ou sentiram sua presença e aí se propagou a lenda e assim o nome, uma composiçao de Antonio Sepp em honra à sua terra natal e a sua santa de devoção.




     Vamos finalizar com a citação de Wolfang Harnisch:
    “Podemos ir mais longe ainda para afirmar que o nome de Tupanciretã se originou do desejo de encontrar um termo adequado para a palavra Marlen-gärtchen (Vergel de Nossa Senhora), tão ve­nerada e amada na pátria do religioso.”



Fonte-Tupan-Cy-Retan-Face Missioneira  -Moisés Silveira de Menezes, Ed Pallotti 2011





 
                  





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