TUPANCIRETÃ-TERRA DA MÃE DE DEUS
Os primeiros habitantes de
Tupanciretã foram índios Tapes/Guaranis que tiveram estreita ligação com Redução
de Natividad de la Virgen, que muito embora não se localizando em terras
pertencentes ao atual município de Tupanciretã, influenciou habitantes do
município pela proximidade, pelo raio de atuação, pois comprovado sobejamente
está que uma redução influenciava,liderava,prestava assistência sob os mais
variados ângulos e aspectos aos moradores de uma vasta região no seu entorno,
como polo irradiador de religiosidade, como centro de trocas e de
abastecimento, além de que como Firmino Costa manifestou em entrevista ao
autor, muitos habitantes da região de Tupanciretã podem ter sido aldeados, reduzidos
em Natividad, porque essa era a prática, a escolha de um lugar que
estrategicamente proporcionasse além de proteção e segurança sob os mais
diferentes vetores,também favorecesse o amplo aldeamento de silvícolas, posto
que a ideia base era a conversão completa.
Posto isso mister se faz desenvolver a
história de Nativiad de La Virgen para que possamos iniciar a compreender a
face missioneira da Terra da Mãe de Deus.
Segundo Firmino Costa após o completo
destroçamento de nada menos que dezenove reduções no Guairá, sobraram apenas
Loreto e Santo Inácio Mini. Nessas duas os jesuítas Antonio Ruiz Montoya e
Francisco Vasquez Trujillo reuniram os índios remanescentes, cerca de 8.000 a
12.000 e, temendo um iminente ataque, resolveram abandonar a região e seguir em
direção ao Sul. Aproximadamente 5.000 índios, entre homens, mulheres, velhos e
crianças, os acompanharam em uma das mais fantásticas retiradas da nossa
história.
Entre
sete a nove padres, incluindo Pedro Alvarez e Paulo de Benavides, sob a
orientação do Padre Montoya, em torno de
700 jangadas e outras embarcações similares, carregando o estritamente
necessário, navegaram o correntoso Rio Paraná como um verdadeiro exército de
retirantes na busca de um destino a ser
encontrado e construído num mundo novo e desconhecido.
Foram
muitos os obstáculos, inclusive foi necessário vencer a resistência dos
habitantes das cidades paraguaias de Vila Rica e Cuidad Real, que se
interpuseram no caminho na expectativa de barrar-lhes a fuga. Ultrapassaram corredeiras
e cascatas. Ao defrontarem-se com as Sete Quedas, hoje inundadas pelo lago de
Itaipu, abandonaram as embarcações fluviais
e seguiram a pé, sertão adentro, abrindo picadas,construindo trihas,
transpondo vales e montes, arroios, pântanos e outra vicissitudes da selva tais
como felinos, cobras e não raro tribos
selvagens antagônicas.
Sofreram
toda sorte de agruras e em consequencia disso e da alimentação deficitária, uma
forte epidemia dizimou centenas deles, principalmente velhos, mulheres e crianças.
Conforme
Firmino Costa depois de muitos sacrifícios, de árdua e constante marcha,
fugindo ao perigo da perseguição dos paulistas atravessaram o Iguaçú e chegaram
até o sul do Paraguai e Misiones na Argentina e de lá, mais precisamente da
redução do Japejú, teriam vindo os padres para iniciar o seu trabalho no
“Tape”, atual território rio-grandense.
Para Rego Monteiro,
Natividade estava localizada nas vertentes do Ivaí, nas fraldas da Serra de São
Martinho. Segundo Veloso ficava à margem direita do Araricá "o verdadeiro Jacuí",
afirmação da qual discorda Monteiro, pois até princípios de 1800, Araricá, era
o nome do Vacacaí-mirim afluente da margem direita do Jacuí, que nasce em São
José do Pinhal.
O Cacique Batu
O vocábulo Batu quer dizer chefe de quadrilha ou bando. Com essa grafia
encontramos no Rio Grande do Sul apenas o cacique minuano Batu e o lugarejo do
Batu em Tupanciretã.
Existe ainda a forma Batú referente a um jogo
de pelota praticado pelos índios Tainos, indígenas pré-colombianos que habitavan as Bahamas, Grandes Antilhas, e Pequenas Antilhas do Norte, no Caribe. Acredita-se que eram ligados aos Aruaques da América do Sul. Falavam um idioma da família linguística
Maipureana,
que abrange o norte da América do Sul e todo o Caribe.
A localidade Batu,no município de
Tupanciretã, possui a mesma grafia do nome do Cacique Minuano Batu, donde
deduzimos que um deriva do outro. Pela antiguidade do nome do lugar,
homenageado em 1930 com uma estação férrea (o nome é anterior ao trem) e pela
época em que o cacique Batu viveu e tendo-se comprovado suas andanças pela
região é possível afirmar que o nome do lugar deriva do cacique Batu que ali
viveu por algum tempo, em época não bem
determinada.
Gomes e Pereira citam o Cacique Batu entre
os primeiros moradores de Cruz Alta,ressaltando-se que a época o lugar
Batu,situado no Posto Jesuíta de São Solano,pertencia a Cruz Alta,hoje no
entanto está compreendido no municipio de Tupanciretã:
“...Antônio de Souza Fagundes, José Bernardo Fagundes,
Zeferino dos Santos, no Cadeado, hoje Capela. José Caetano de Carvalho e Souza
na Guarda da Conceição. Firmino da Silva Moreira, próximo ao povoado. Manoel
Gonçalves Terra, no atual Rincão de Nossa Senhora. Antônio Moreira da Silva,
para o lado do lvaí. Joaquim Júlio da Costa Prado, entre os Arroios Corticeira e Palmeira. Domingos AIves
dos Santos, na histórica estância da Conceição. Cacique Batú, na sesmaria São Francisco Solano, dividindo ao Norte com
a Conceição. João Nunes da Silva, na Estância Tupanciretã, dos Jesuítas, com o Posto de
São Tomé. Manoel Antônio Severo, na Guarda de São Pedro. Jacinto Pereira
Henriques, sobre o Arroio Caneleira. Matheus
e Agostinho Soares da Silva, na sesmaria Céu Azul, à direita do lvaí. Antônio
Rodrigues Padilha, próximo à Guarda de São Pedro. João Vieira de Alvarenga,
onde localizou-se o Povo Novo, de cuja área foi êle o doador. Ana Cândida
Vieira, à margem direita do lvaí, em 1817....”
Saldanha descreve
o Cacique Batu ao encontrá-lo, em 1790, às margens do rio Cacequi:
“...
O Batu é alto, velho carancudo, e feio.”
Trancreve ainda Saldanha uma fala de
aspecto religioso do Cacique Batu:
“...Quem
poderá haver tão falto de razão, que do ente supremo negue a existência, se o
mesmo Batu da gema dos minuanos, falto
de discursos, e combinações responde apontando para o céu... só quem ali
existe. Senhor é das vidas, e humanas mortes...”
Esse trecho comprova a convivência do cacique na região das missões onde
teve contatos com o catolicismo e vem ao encontro de outras citações inclusas
em outros momentos desse trabalho referente às visitas frequentes dos índios
pâmpidas, integrantes das mais variadas tribos, em busca de negócios, em
tentativas de aderir à catequese e ao reducionismo, além de algumas já faladas
incursões de roubo de gado, conforme Wilde:
“...Más tarde relata un informe que un grupo
de nicolasistas fugados de su pueblo se dedicaban al saqueo de las estancias de
la zona comandados por un líder llamado Chumacera y que proclamaban como jefe al Cacique Batu de los minuanes a cuya
toldería habían enviado sus mujeres y bienes .”
Aqui temos um fragmento que indica ser
próximo das missões a Toldaria de Batu, caso contrário não seria uma operação
rápida e fácil, para lá, serem levadas mulheres, crianças e bens. Deduzimos
também que era Batu muito conhecido na região, pois fora aclamado líder
inclusive de índios guaranis, para essa missão de saque. Wilde não situa
exatamente o ano desse fato, mas sua obra analisa o período entre 1609-1768.
Pode-se deduzir que ele tenha aparecido junto com o Cacique Moreyra que andava
por ali ao tempo do Padre Sepp, pois foi uma época de muitos relatos envolvendo
a presença de Minuanos, Guenoas, Yaros e outros ditos infiéis nas reduções de
São Miguel, São Nicolau e São João.
Em razão do Cacique Moreyra liderar 200
minuanos como retaguarda do exercito português na segunda campanha guaranítica
e sabendo-se que um cacique tinha consigo por volta de 50 guerreiros,é provável
a presença de outros caciques nesse grupo e entre esses o velho Batu que já era
conhecidos nas missões e por ali havia liderado guaranis renegados conforme
Wilde,já citado anteriormente.Certo que participaram na guerra e que voltaram
junto com Gomes Freire ebem provável que abandoram as missões quando o general
voltou para Rio Pardo e exemplo também de muitos guaranis,pois não gostavam dos
espanhóis.
Ferreira Filho ao comentar sobre os
índios do Rio Grande do Sul assim se expressa:
“No
inicio do povoamento lusitano constatou-se a presença de índios minuanos em
Mostardas, na costa do mar, e mais tarde no Planalto Médio, onde deixou fama o
Cacique Batu.”
Temos aqui uma consistente e definitiva
prova de que Batu viveu em Tupanciretã onde fez fama ao ponto de ter unido para
sempre seu nome a uma das mais tradicionais localidades do município.
O fato do Cacique Batu haver sido um dos
antigos moradores de Tupanciretã é muito significativo, pois deixou seu nome
ligado a uma localidade que já sendo importante como posto de estância
missioneira, passa a ter ainda mais relevo por ter sido lugar da Toldaria
do célebre cacique e finalmente confere um traço minuano, um
traço pâmpida à face missioneira da Terra da Mãe de Deus.
Abacatu
Segundo Firmino
Costa a localidade do Abacatu teve como primitiva designação jesuítica,São
Pedro de Tujá, nome secular, antiga estância jesuítica pertencente ao povo de
São Lourenço. Abacatú era um índio proveniente
de São Borja, integrante do grupo que foi transladado por ordem de Gomes
Freire de Andrada, em 1760, para a fronteira de Rio Pardo afim de serem
destinados a futuras aldeias.
É provável que
tenha morado antes da transferência para Gravataí na localidade que hoje leva
seu nome (divisa de Tupanciretã com Júlio de Castilhos) e que na passagem de
Gomes Freire o tenha seguido juntamente com sua família para tornar-se um dos
povoadores de Gravataí,conforme Francisco Salles citado por Costa:
“Abacatú é o
chefe de uma das famílias povoadoras da Aldeia dos Anjos (Gravataí) e aí, em
1768, batizou seu filho, cujo registro consta do 1° Livro de Batismo, fls. 17
v:" Aos nove de março de mil setecentos e sessenta e oito, batizei a
Miguel, filho de Miguel Abacatú e de Martinha Tirú. Foram padrinhos: Francisco
Xavier e Joana Mondeaí. Frei Rafael da
Purificação"
Mais tarde o
governo obriga os povoadores de trocar de nomes indígenas para portugueses
confundindos com o nome das famílias já existente no Continente, como Silveira,
Gomes, Carneiro da Fontoura, etc..
Há no Arquivvo
Histórico e Geografico do Rio Grande do Sul um tombo em que consta todas as
famílias da Aldeia dos Anjos com seus nomes e os adotados. Nota minha: Abacatú quer dizer em guarani: homem são, sadio, perfeito.Na troca de nomes ficou
Miguel e Martinha,tornou-se Isabel.”
Essa transmigração indígena das
missões para os territórios portugueses começou em 1757 quando da retirada de
Gomes Freire para Rio Pardo e seguiu acontecendo em pequenos grupos conforme
consta no Diário Sá de Faria transcrito por Golin:
“…o agrado e trato que em nós achavam, foram
causa de nos acompanharem para o Rio Pardo um grande núnero de famílias, que
passaram de 3.000 almas. Como estas faziam um grande vulto na marcha, receou o
nosso general [que] lhe fizesse o dos castelhanos carga de que os induzira,
tirando ao rei católico tão grande número de \vassalos. Usou da política de lhe
escrever do caminho, avisando-o, e ainda aconselhando-o [que] evitasse esta transmigração
dos índios, pondo guardas nos passos principais que os embaraçassem, pois ele
não queria o ditos índios, de nenhuma sorte.
O que o
mesmo general castelhano agradeceu. Mandou por as guardas, principalmente no
Passo do Monte Grande, e em outros. Mas sem fruto, porque, pela outra parte, a
tropa lhe dava todo o auxílio, para passarem segur os, por entenderem
que o nosso general assim o queria, e ouvia, em enfado, as notícias de irem
passando sem embaraço, o que algumas vezes se conseguiu, com manha, por entre
as mesmas guardas; e, outras, penetrando os matos, para passarem sem serem
vistos...
Finalmente, chegou o nosso exército e índios
ao Rio Pardo, em 10 de junho de 1757…
Sabendo o
mesmo general espanhol a quantidade de índios que se haviam transportado ao
nosso domínio, escreveu repetidas cartas ao nosso general para que os
restituísse. Sempre o mesmo senhor se mostrou desinteressado, nesta parte, e
empenhado em que voltassem para as suas aldeias. Porém, isto porque sabia muito
bem que nada os faria mover. E,
nesta certeza, respondeu por várias vezes que mandasse oficiais seus a
reduzi-los. Até permitiu que viessem padres jesuítas a esta mesma diligência.
Porém, só colheram por fruto das grandes que fizeram bastantes desatenções dos
mesmos índios, até que, ultimamente, para de toda a sorte mostrar o nosso
general que os não queria, propôs ao senhor general espanhol se convinha ele
que mandasse fazer fogo pelas tropas aos índios que, fugados daquelas aldeias,
quisessem entrar no nosso país (e que verdadeirarnente estavam entrando, em
pequenas partidas)...”
Não conseguimos apurar a etnia de Abacatu, no
entanto resolvemos colocá-lo junto com os Minuanos em razão de ter associado
seu nome a uma localidade assim como o Cacique Batu da tribo minuana.À época da
destruição e posterior migraçao do Guairá existia por lá um cacique muito
influente chamado Abacaty e considerando que os caciques costumavam repetir
nomes de outros ancestrais de renome, esse nome Abacatu pode vir daquele e aí
por certo seria ele da etnia Guarani/Tape.No final da Primeira Campanha da
Guerra Guaranítica houve um armistício de paz entre Gomes Freire os Guaranis e
um dos caciques signatários chamava-se Acatu,nome que guarda bastante
similitude com o de Abacatu e também aqui devemos considerer que entre os
indígenas era comum a troca de nome,não raras vezes pelo nome de um líder
espanhol ou português,exemplo como vimos do próprio Abacatu que ao chegar na
Aldeias dos Anjos batizou-se com nome protuguês.
TUPAN-CY-RETAN-A Lenda
O vocábulo lenda vem do
latim e significa legenda, ou seja,
aquilo que deve ser lido. Para Gean Gennep lenda é a narração localizada, individualizada e
objeto de crença, que tenha como traço comum e constante a religiosidade.
A lenda tem localização no tempo e no espaço, conta um fato geralmente com
conotação religiosa, pode inclusive possuir uma origem histórica, qual seja: um
fato ou acontecimento ou personalidade histórico analisado pela visão popular,
depois de contado e recontado muitas vezes poderá transformar-se em lenda, como
exemplo podemos citar a Lenda de São Sepé baseada na vida do Cacique Sepé
Tiaraju.
Segundo Moacir Flores, "lenda é a narração de fatos enriquecidos com
mitos, transformando a história em acontecimentos maravilhosos e os homens, em
santos. A lenda se diferencia do mito por sua precisão geográfica e temporal,
apresentando heróis que realmente existiram, mas que a imaginação popular
recriou de geração em geração em resposta a seus anseios.”
A interação social modifica
normalmente pelo acréscimo de elementos a lenda original, de tal maneira que
surge a lenda transformada e por vezes transcendendo à própria história.
De acordo com Paula Simon as
lendas do Rio Grande do Sul atendem a seguinte classificação:
a)Geográficas – São as que tem relação com à criação de determinados
lugares, como:
Osório
(Conceição do Arroio), Soledade, Tupanciretã, Cruz Alta,Cacimbinhas (Pinhei-ro
Machado), Passo da Areia ou Obirici, Lagoa Parobé (Cavalo Encantado), Lagoa do
Caverá (Cervo Encantado).
b)Missioneiras – Aquelas que estão
relacionadas com a região das Missões:
São Sepé (Lunar de Sepé),
M’bororé, M’boiguaçu (Cobra Grande), Rio das Lágrimas;
c)De escravos – São lendas cuja origem
remete ao tempo da escravatura no Brasil, relacionadas à negritude:
Santa Josefa, Torres Malditas
(Igreja das Dores), Negrinho Antão (Sanga Funda), Cambaí (Iiio do Negrinho, São
Gabriel) ;
d) campeiras – As que tem relaçao com
as lides nas fazendas do Rio Grande do Sul: Negrinho do Pastoreio;
e) etiológicas – Lendas que explicam a
origem e/ou o nome de algum lugar ou
o porquê de alguma
coisa:Criação do mundo, do homem, da mulher e do negro, as relacionadas à fuga
da Sagrada Família, a da Festa do Céu, a do umbu, a do tico-tico, a do linguado
e a da savelha, por exemplo.
Tupanciretã, que tem sua história intimamente
ligada às missões jesuíticas da Província Jesuítica do Paraguai. Por aqui
transitaram os padres Antonio Sepp, Cristóvan de Mendoza, Romero, Dias Tano e
tantos outros. Imagens de santos eram esculpidas e cruzavam trilhas e estradas
primitivas para depois pairarem soberanas nos altares improvisados das rústicas
capelas das estâncias missioneiras. Tem profundas raízes na vida missionária de
índios e Inacianos e, assim sendo não poderia escapar as decorrências dessa
contingência.
Por suas estradas caciques como
Sepé,Batu e outros de igual renome cruzaram no rastro da gadaria e cavalgaram
para fazer história.Pelos seus campos cruzaram soberanos e prepotentes generais
ibéricos com suas hordas ignorantes para destruir uma das mais lindas e
ingênuas civilizações da América. O seu
nome, Tupan-ci-retan, tem não apenas uma origem lendária, mas sim, encerra uma
das mais belas e singelas lendas do Rio Grande.
Segundo Manoelito de Ornellas:
Segundo Manoelito de Ornellas:
“A
fazenda jesuítica apenas assinalada pela capelinha tosca, já existia no alto de
um coxilhão deserto (campina extensa). E as árvores do mato crioulo, à tarde,
projetavam-lhe sombra larga das suas ramarias. Ao lado, sob o amparo de uma
cruz modesta, mal resistia a fúria das tempestades, um rancho pobre, coberto de
palha, que tinha a finalidade amiga de acolher os poucos viandantes (viajantes)
que por ali passavam. O local nada mais era do que um Posto de São João. Dentro
da capelinha, tão pobre como esquecida, apenas uma imagem tosca enfeitava a
tábua erguida como altar. Era uma imagem da Madona dos Céus, da Senhora dos
Crentes.
Um dia, em
que pelos caminhos maldelineados da serra, passavam um missionário e alguns
poucos índios, uma tempestade os colheu nas proximidades do Planalto da Coxilha
Grande. A noite chegava, e com ela o pânico e o terror. Quando a desorientação
desesperava o padre e os poucos índios companheiros, um relâmpago lhes mostrou
na fímbria do horizonte, em plena noite, um vulto mal definido. A silhueta que
os relâmpagos mostravam, perto, era a imagem da Madona exposta ao furor da
tempestade que arrebatara da capela pequenina a cobertura frágil.
O sacerdote, cheio de alegria cristã, exclamou: “Tupan-ci”. E os índios aterrorizados, repetiram: “Tupan-ci-retan”, que na língua indígena quer dizer: TUPAN = DEUS, CY= MÃ, RETAN = TERRA, ou seja, “TERRA DA MÃE DE DEUS.”
O sacerdote, cheio de alegria cristã, exclamou: “Tupan-ci”. E os índios aterrorizados, repetiram: “Tupan-ci-retan”, que na língua indígena quer dizer: TUPAN = DEUS, CY= MÃ, RETAN = TERRA, ou seja, “TERRA DA MÃE DE DEUS.”
O Nome Indígena
Manoelito de Ornellas enviou uma carta
a Souza Doca consultando sobre a lenda de Tupanciretã e algumas outras versões
sobre as origens do nome. A resposta a essa carta foi transcrita ao final do
livro Tupan-Cy-Retan de Manoelito e nós vamos republicá-la na ìntegra, pela
importância e em respeito aos dois historiadores:
“Respondo
á pergunta que me encaminhaste, de Manoelito de Ornellas, sobre a origem do
nome Tupanceretan, dada a sua linda terra natal em nosso planalto, hoje elevada
a município”.
O nome vem
do século XVIII.
No ultimo
quartel deste século ali já havia uma estância jesuítica com aquela
denominação.
E’
possível que o rancho mencionado pelo consulente seja uma das casas da estância
talvez a principal, que ali ficou e, sobre a ação do tempo,virou tapera e
finalmente desapareceu deixando apenas a reminiscência de que fala Manoelito.
Era uma espécie de Oásis no magestoso deserto
verde de nosso planalto, de horizontes dilatados e onde o dia se extingue numa
agonia lenta, morrendo aos poucos, como um Deus romântico, de saudade cheio
entre os desmaios variegados do poente.
Creio que o nome não foi dado pelos
aborígines e sim pelos jesuítas, ao estabelecerem ali a estância que
denominaram, Tupanceretan, Estância de Nossa Senhora que me parece a melhor
tradução.
Literalmente seria Estância da Mãe de Deus,
mas tendo sido o nome dado pelos jesuítas estes, como todos os católicos, dizem
de preferência Nossa Senhora em vez de Mãe de Deus, julgo melhor, isto é, mais
expressiva aquela tradução.
Etã, radical de Teta, que por eufonia às
vezes muda o t em r, significa a terra pátria, o país e também cidade, povo,
aldeia, lugar habitado e no caso, por extensão estância.
Na interpretação ou tradução dos topônimos
indígenas há três elementos essências que devem ser sempre considerados: a
língua com suas significações particulares e gerais, dada a sua pobreza, a
geografia física, isto é, o acidente geográfico em sua forma exterior a
antropogeografia.
Em Tupanceretan não teve influência o segundo
elemento citado. O primeiro, entretanto, entra como fator importante.
Já vimos que o etã é o radical de teta, as
transformações porque este passa e suas significações e como, por extensão, se
pode traduzi-lo por estância, fazenda, patrimônio,
etc., de Nossa Senhora.
Atendo-nos ao terceiro elemento citado, isto
é, históricamente não se pode aceitar que o nome tenha a origem suposta por
Manoelito, é de notar-se que ele, criteriosamente, faz uma simples suposição
porque antes de 1801 já a denominação existia.
Além disso, a tradução, Terra da Mãe de Deus,
a que eu também já dei curso, tem uma extensão vaga, ilimitada, e não me
aparece tenha aplicação no caso, por se tratar de uma região relativamente
pequena, uma simples estância.
Menos aceitável é a lenda que atribui a
origem do nome em apreço a esta frase pronunciada por um companheiro do francês
Beauvalet, ao se despedir deste que ali ficou, naquela localidade que escolhera
para sua residência: Tu y passerás lê
temps e que teria sido recolhida por um peão que os acompanhava e que por
ignorar a língua francesa tomou a palavra como sendo o nome do lugar e a
repetia foneticamente: tupanceretan,
como se lhe afigurava pronunciada.
E’ um simples invencionice isso.
O nome já existia desde o último quartel do século XVIII e Beauvalet só podia
ter ido para o Rio Grande do Sul nos meados do século seguinte, isto é, em 1848
ou depois, visto que neste ano fora posto em liberdade na França da prisão em
que se achava por haver morto em duelo o
jornalista Dujarier.
Segundo se vê nas concessões de sesmarias de 1791 a Ana Fausta Gertrudes
de Magalhões, havia no atual município de Cachoeira, um rincão denominado
Tupanceretan, cuja tradução livre deve ser Rincão de Nossa Senhora. O nome como
se vê vem de longe na toponímia de nossa terra”
Na carta, Souza Doca
faz uma referência a uma idéia de Manoelito De Ornellas sobre a origem do nome.
Era hipótese daquele escritor que o nome, Tupanciretan, Terra da Mãe de Deus,
poderia derivar do fato de ser o lugar um posto acolhedor e hospitaleiro e daí
a simpática denominação. Sousa Doca refuta essa suposição de Ornellas e também
a certa lenda que conta de um francês que para o lugar teria vindo cujo trecho
repetimos aqui na integra:
” Menos aceitável é a lenda que atribui a
origem do nome em apreço a esta frase pronunciada por um companheiro do francês
Beauvalet, ao se despedir deste que ali ficou, naquela localidade que escolhera
para sua residência: Tu y passerás lê
temps e que teria sido recolhida por um peão que os acompanhava e que por
ignorar a língua francesa tomou a palavra como sendo o nome do lugar e a
repetia foneticamente: tupanceretan,
como se lhe afigurava pronunciada.E’ um simples invencionice isso.”
Essa
lenda que tanto Souza Doca quanto Manoelito de Ornellas chamam de invencionice,
não tem ligação, nem alusão alguma a lenda missioneira que há muitos nãos
existe e que se perpetua pela voz do povo que a repete com afeto e nela credita
como origem do nome,lenda essa, já citada anteriormente nessa obra, em uma
versão do próprio Ornellas.
Wolfang Harnisch em viagem pelo Rio
Grande do Sul fez interessante relato
sobre Tupanciretã :
“Mas as árvores crescem também
neste solo, pois suas raízes vão para o fundo. Na região do atual município de
Tupanciretã enontravam-se antigamente os imensos pomares e plantações de
àrvores frutíferas da Redução de São João Batista.
Tupanciretã-que nome!
Como é
bela sua origem: a formação do vocábulo foi inspirada pelo ambiente cheio de
flores.
Numa
monografia do município, Manoelito de Ornellas informa que parte do nome se
prende à memória do grande apóstolo do Brasil, o venerável Anchieta. Entre os
versos que o grande jesuíta e taumaturgo escreveu, e que “foram sendo repetidos
e ensinados por todas as tribos”,encontravam-se alguns,dos quais D.Pedro II
tirou cópia em Roma. Entre tantos havia os seguintes:
O’, Virgen Maria,
Tupan-ci-etê
Aba pé ara porá
Oicó ende iabê,
Cuja tradução significaria:
O’,Virgen Maria
Mãe de Deus verdadeiro
Os homens desse mundo
Estão muito bem convosco!
Nesse verso encontramos as primeiras três sílabas do
nome. Tupan significa Deus. Ci é igual a Mãe.As últimas duas sílabas Retan
significam Terra.
O nome de Tupanciretã quer dizer Terra da Mãe de Deus.
No último quarto do século XVIII existia,
conforme sabemos por documentos, uma estância jesuítica desse nome· no lugar.
A redução de Sao-Joao-Batista tinha muitas fazendas para criação de gado, entre
elas São-Joao-Mirim, destinada a pecuária e Tupanciretã a fruticultura.
O padre Antonio Sepp cultivava com imenso carinho filial
o nome da Virgem Santíssima. Logo depois de sua chegada as Missões, distribuiu
entre os índios centenas de imagens de "Nossa Senhora Negra de
Altoettingen", (cópia da imagem da Mãe de Deus muito venerada em sua
pátria). Sabemos também que o fundador de São-João-Batista metrificava
perfeitamente na língua guarani, como dela se utilizava na vida profana, e como
ainda foi este mesmo padre que plantou as arvores frutíferas em Tupanciretã. E
fácil, portanto, deduzir-se que foi ele quem formou este nome tão poético e
sentimental. Mas há ainda outro motivo mais convincente que nos permite admitir
que foi o citado sacerdote a autor do nome. Certa vez ele o chamou seu
"Vergel da Virgem Maria", como tantas vezes o vira no Tirol, e muito
em uso na Alemanha do Sul. A citação quer indicar um pomar em flor que, na sua
inflorescência branca e rósea, representa bem o símbolo do amor a Mãe· de Deus.
Os pessegueiros e damascos em flor traziam a lembrança do padre Sepp os
pomares de sua terra tirolesa. Podemos ir mais longe ainda para afirmar que o
nome de Tupanciretã se originou do desejo de encontrar um termo adequado para a
palavra Marlen-gärtchen (Vergel de Nossa Senhora), tão venerada e amada na
pátria do religioso.”
Face Missioneira
Na caminhada que empreendemos no propósito de desvendar, de apresentar,
de descobrir a face missioneira de Tupanciretã se não está chegando, ao seu
final, se encontra em um ponto da jornada, da pesquisa que permite formular um
esboço bem claro, um desenho bem delineado dessa face. Uma face que a primeira
vista pode estar diluída em um sem fim de acontecimentos que fazem parte, que
construíram um processo histórico de quase duzentos anos. Em um segundo
momento, aguçando o olhar podemos ver que a face não está diluída, mas
sim,encontra-se impregnada desse processo histórico e também dele se
impregnou.Faz parte,integra e também é fruto desse processo fantástico e único
na história do Brasil,a aventura política, religiosa,social,cultural e militar
da Província Jesuítica do Paraguay.A face do padre jesuíta que segundo Antonio
Sepp citado por Oliveira:
“(...) o Padre precisa ser
tudo a todos! Precisa ser: cozinheiro, dispenseiro, comprador e gastador,
enfermeiro, médico, arquiteto, jardineiro, tecelão, ferreiro, pintor, moleiro,
pedreiro,
escrivão, carpinteiro, louceiro, oleiro e tudo quanto pode haver ainda
de funções numa república bem organizada, numa comunidade, cidade ou num
Collegium Societas, ou num convento da Santa Ordem.”
A face missioneira de Tupanciretã começou a
ser modelada no início do processo reducional rio-grandense após a queda e
conseqüente migração do Guairá. De lá vieram guaranis remanescentes liderados
pelos padres da Companhia de Jesus em busca de outro lugar para aldeamento,
para a pacienciosa catequização dos indígenas, na constante busca, no eterno
vaguear a procura da Terra Sem Males, espécie de nirvana guarani que vinha tão
bem, ao encontro do Paraíso ou do Éden da Bíblia Sagrada.
A
face missioneira da nossa terra tem traços da coragem de Roque Gonzáles
incursionado pelo desconhecido, remando solitário da foz do Ibicuí até as
proximidades de São Martinho da Serra fundando as bases das primeiras reduções
do nosso estado. Tem a persistência, a visão empreendedora de Ruiz de Montoya
liderando os padres Romero, Trujillo, Alvarez e outros, singrando rios
perigosos, descendo pelo intrincado das serras, pelo emaranhado das florestas,
em uma delicada retirada com os sobreviventes do seu povo, para afastá-los da
sanha predatória dos bandeirantes e dar forma ao sonho do Tape. Essa face é
composta de muitas faces, de muitos traços. É uma face de desenho cristalino,
forte, mas bastante complexa nas suas variantes, nas suas singularidades.
Nesse primeiro momento, primitivos habitantes da região de Tupanciretã
são buscados no seu habitat natural, convencidos por padres obstinados,misto de
santos e guerreiros.São agrupados em torno da Redução da Nuestra Señora de La
Natividad de La Virgen e ajoelharam-se ante a Santa Cruz e o Evangelho do
Senhor. Provavelmente aqui nesse tempo o primeiro encontro com a Mãe de Deus.
Logo em seguida ganha forma o traço pecuarista dessa face, através de um
tropeiro de batina, um pioneiro no ramo, o primeiro condutor de gado a cruzar
nosso campos conduzindo um rebanho bovino pra distribuir cerca de uma centena a
cada um dos povoados missioneiros. Cristóvão de Mendoza cruza os campos da Mãe
de Deus com sua tropa e dá início, sem o saber, a uma profissão, um modo de
vida, um comportamento, um jeito de ser. Esse conjunto, esses modus vivendi,
inserido, forjado nas variáveis do tempo e das circunstâncias vai criar um tipo
social singular que irá caracterizar e representar muito bem o nosso estado.
Esse traço se completa com a chegada do cavalo e com ele, o encurtamento
das distâncias, o movimento das linhas de fronteira, institui-se o que Mariante
denominou “fronteira do vai e vem”, uma linha por vezes imaginária que ganha
corpo e forma à patas de cavalo e ponta de lança. O gaúcho rio-grandense começa
a ser gestado a partir do momento que os charruas e minuanos aprenderam a domar
o cavalo e criar com ele uma relação harmoniosa. Esse componente pâmpida,
tropeiro, ginete, guerreiro, homem sem fronteira e sem lei, senhor dos campos
abertos, um homem gestado pelo que se pode encontrar no espaço
bio/sócio/cultural compreendido entre as figuras míticas de Cristóvão de
Mendoza e o Cacique Batu. Essa a face gaúcha, campeira, missioneira, de Tupanciretã.
Existe um traço nessa face missioneira que
traz a dor do massacre guarani gestado pelos conchavos políticos da Ibéria.
Dois exércitos europeus armados com o que há de mais moderno na arte da guerra
atocaiam Sepé no Arroio da Bica, morre um chefe, um líder e nasce um mito. Três
dias depois dão forma ao maior genocídio da história sul-americana. O número
ninguém sabe com certeza, mas de qualquer forma é um número que assusta que
fere de morte a dignidade humana. São perto de 1800 mortos sob o comando de
Nicolau Nhenguirú, armados de arco e flecha, algumas espingardas artesanais e a
fé em São Miguel. Nesse momento a face missioneira de Tupanciretã é de lamento,
de dor, mas também é de obstinada resistência pela defesa da terra, a terra sem
males, e é nas margens do Arroio Chuni, a última, a derradeira tentativa de
derrotar os exércitos de Andoanegui e Gomes Freire, armados com as mesmas armas
arcaicas e a imorredoura fé em São Miguel e na Virgem do Tirol.
Quase 50 anos depois, esse traço se recompõe
em parte, pela campanha fulminante de Maneco Pedroso, Borges do Canto e Gabriel
Almeida que conquistam o território das missões e dão forma definitiva ao mapa
do Brasil, no sul da América. O Passo do Arroio Chuni mais uma vez é lugar
definitivo, última trentativa de resistência espanhola, como afirma Larguia:
“Alii, en el paso del Arroyo Chuvirei se les ordena
preparar fortificaciones de defensa, obra que sedan dirigida por el maestro de
letras de San Iv\.iguel Arcangel, don Manuel de Lazcano.
Recordar que en ese mismo paso, durante la guerra
guaranitica, el lOde lv\.ayo de 1756 los guaranies "inobedientes"
habian hecho la ultima resistencia al avance del ejercito binacional. El comentario
de los oficiales del ejercito en esa ocasian fue que el sitio era tan
estrategico para la defensa, que si en vez de los inexpertos guaranies, el
paso hubiera estado ocupado por 100 sold ados europeos veteranos, se hubiera
logrado impedir el paso de los 2.500 hombres del ejercito binacional.
Quedaron en San Miguel
Arcangel el Cte. Rodrigo y don ,Leandro Herrera, con algunos de los milicianos
españoles y pocos guaranies. Los 200 efectivos guaranies dirigidos por Lazcano
-acamparon en el paso de Chuvirei y comenzaron el acopio de materiales para la
construcción de la trinchera, distante este sitio, ,unos 10 kIn de San Miguel
hacia el Este. Estaban en los prepara; rivos de la obra, cuando llegaron al
campamento los montoneros portugueses
acompañados por los guaranies sublevados de la -guardia de San Martin.
Nuevamente los mestizos hicieron su trabajo demagógico y consiguieron
fácilmente que se sublevaran itambien los 200 índios de las milicias de San
Miguel.”
Tendo desafiado os leitores a construir cada um sua face misioneira para
Tupanciretã, tenho por obrigação que desenhar a face que encontrei nesse
emaranhado de libros, fotos, documentos e conversações. Existem muitos traços,
entretanto, cabe ressaltar um e teremos uma face característica e
representativa dessa terra de paisagens lindas e de nome mais lindo ainda. Há
combates,embustes,malogros,incursões de cavalaria,lides agropastoris e muito
sangue inocente derramado pela exploração do homem pelo homem,mas também há o
perfume das flores,dos pessegueiros, campos verdes, céu azul , a mão laboriosa e o gênio criativo do padre Sepp e
principalmente a bondade e a generosidade na Nossa Senhora de Alt-Oettingen,a Virgem Negra do Tirol cuja imagem estava entre as mais conhecidas de
todo a Província Jesuítica do Paraguai,conforme afirma Oliveira:
“Na Província
Jesuítica do Paraguai, as esculturas mais famosas foram a de Nossa Senhora de
Alt-Oettingen e a de Santo Inácio de Loyola, o criador da Companhia de Jesus...
A imagem de Nossa Senhora de Alt-Oettingen, que Sepp havia adquirido antes de
sua partida da Alemanha, tinha a particularidade de
ser negra. Aproveitando-se da similaridade, estabeleceu contato com os escravos
que viajaram no seu barco, que, de imediato, se identificaram com a santa
(MONTOYA, 1985). Acreditamos que o sucesso dessa imagem se deveu a três fatores
principais. Em primeiro lugar, ele pode ser creditado ao grande número de
cópias que Sepp produziu antes mesmo de sua chegada à América. Essa “clonagem”
da Virgem continuou na América logo após a sua chegada. Em segundo lugar,
porque havia carência de imagens que pudessem disputar a preferência dos
indígenas. No século XVII, os barcos não chegavam com freqüência nem com
regularidade ao porto de Buenos Aires, o que fazia com que as imagens fossem
raras. Finalmente, essa popularização se deveu, certamente, à divulgação de
seus milagres, que se tornaramconhecidos em toda a região do Rio da Prata, como
por exemplo,quando ela acabou com uma praga de gafanhotos que havia atacado as
plantações de trigo, nos últimos seis anos do século XVII.”
Essa imagem que Sepp trouxe do Tirol e
espalhou inúmeras pelas capelas dos postos das reduções deve ser a que, segundo
a lenda apareceu para os índios em meio ao temporal, oferecendo abrigo na
capelinha singela no topo da coxilha.
A partir daí o gênio de Antonio Sepp formou o
nome Tupan-cy-retan e uniu para sempre a Kaltern-Caldaro do sul do Brasil à sua
amada Tupanciretã do Tirol. A foto do livro “P. Antônio Sepp-O Gênio das Reduções Guaranis” de
Arlindo Rabuske ilustra muito bem isso e foi determinante para que me decidisse
sobre qual o mais importante traço da face missioneira de Tupanciretã, a
Kaltern-Caldaro do Padre Antonio Sepp, o lugar para onde trouxe as flores e os
pomares da sua terra natal.
O lugar onde Sepp, pacientemente esperou
uma oportunidade única para batizar de tal forma que essa nova pátria, esse
lugar que o encantara, para sempre lembrasse seus Vergéis de Nossa Senhora no
Tirol austríaco, hoje pertencente ao território da Itália, mas ainda povoada em
grande parte por descendentes de alemães.
Uma lenda sempre tem algo de verdadeiro e
por certo os índios naquela noite de tempestade, e eram frequentes os
temporais, abrigaram-se em uma das tantas capelas existentes na região.
Provavelmente sentindo-se p-rotegidos e aquecidos devotos que eram da Nossa Senhora de
Alt-Oettingen, a Virgem Negra do Tirol, viram ou sentiram sua
presença e aí se propagou a lenda e assim o nome, uma composiçao de Antonio
Sepp em honra à sua terra natal e a sua santa de devoção.
Vamos
finalizar com a citação de Wolfang Harnisch:
“Podemos ir mais longe ainda
para afirmar que o nome de Tupanciretã se originou do desejo de encontrar um
termo adequado para a palavra Marlen-gärtchen (Vergel de Nossa Senhora), tão venerada
e amada na pátria do religioso.”
Fonte-Tupan-Cy-Retan-Face
Missioneira -Moisés Silveira de Menezes,
Ed Pallotti 2011
Parabéns pelo belo trabalho da gênese histórica de nossa terra.
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